É uma espécie de “Caminha dos Pequeninos” e nasceu no quintal do Senhor José Gonçalves que vive no Lugar de Coura na freguesia de Seixas.
Quem passa junto aos muros da propriedade não resiste a uma espreitadela e quando damos conta estamos a esticar o pescoço tomados pela curiosidade.
Pessoas a espreitar para dentro do quintal é coisa a que José Gonçalves já se habituou, bem como a desconhecidos a explorarem o seu jardim.
A histórica Torre do Relógio de Caminha, a impetuosa Casa das Pitas, situada na confluência do Terreiro e a Rua da Corredoura, o quinhentistas Chafariz da Praça ou o velho Forte da Ínsua que já foi morada de frades, são apenas algumas das várias miniaturas construídas por José Gonçalves e espalhadas pelo terreno que envolve a sua casa.
O gosto por estas construções surgiu por acaso, há alguns anos quando regressou de França já reformado e começou a fazer umas pequenas obras em casa.
“Um dia decidi fazer umas obras aqui na parte de baixo da minha casa e quando terminei, verifiquei que tinha retirado várias pedras que fui amontoando aqui fora. Olhei para aquilo e pensei que raio vou eu fazer disto? Foi quando me lembrei de construir uma casinha tipicamente minhota no jardim”.
Quando ficou pronta, a pequena construção parecia mais uma casinha de bonecas e fez as
delícias dos netos de José Gonçalves.
Mais tarde surgia uma nova construção, desta vez um pequeno caniço tipicamente minhoto, para guardar as espigas de milho que serviam para alimentar os animais da casa.
Desta forma, o gosto pela construção de miniaturas começou a tomar os dias de José Gonçalves.
Construiu depois um moinho de vento, uma casa típica da ilha da Madeira, pequenas pontes e lagos e até reproduziu a Capela de São João d’Arga onde não faltam figurantes (bonecos) a assistir à missa e um sino que toca como os verdadeiros.
Enquanto nos conta a história de cada uma das construções, percorremos o espaço numa espécie de visita guiada.
Oculto numa das extremidades do jardim, sobressai uma cópia quase fiel do Chafariz de Caminha onde não falta a água a correr nas bicas.
“Está aqui muito trabalho e muito dinheiro gasto neste chafariz. Demorei mais de 400 horas a concluí-lo, tenho tudo apontado num caderno”, conta.
Um pouco mais à frente pintada de branco com janelas vermelhas, está a casa da ilha da Madeira com o seu telhado em colmo, agora tapado para se proteger do mau tempo. Mais uma vez paramos para ouvir a história desta pequena construção. “Olhe decidi fazer esta casinha porque fui várias vezes à Madeira e sempre que ia dizia que um dia ia fazer uma construção destas para pôr no jardim, e assim foi”.
Mais à frente a Capela de São João d’Arga da qual já falamos. Ao passar toca no sino “é para chamar para a missa, só falta o padre”, diz em tom de brincadeira.
Continuamos a percorrer os cantos e recantos deste jardim e chegamos à outra extremidade da “Casa das Miniaturas” como se lê no azulejo da entrada.
Do lado direito avistamos a velha Torre do Relógio ladeada do edifício da Câmara de Caminha e Caixa Geral de Depósitos. No chão, feita com pequenas pedras, uma embarcação de pesca do rio Minho envolve um canteiro de flores.
Mas a maior surpresa ainda estaria por se revelar.
Mesmo à nossa frente ergue-se a “Casa das Pitas” reproduzida ao pormenor. Na fachada pode ver-se o brasãoda família e as argolas pregadas à parede e que no passado serviam para prender os cavalos à porta ou os animais que transportavam as mercadorias que abasteciam a casa senhorial.
“Esta peça também de demorou muitas horas a fazer porque tem muitos pormenores. Lembro-me que quando a estava a construir, vinha a Caminha quase todos os dias e ficava a olhar para os detalhes e depois quando chegava a casa reproduzia o que tinha visto. Acho que o resultado ficou muito bom”.
No interior da casa, José Gonçalves colocou até pequenas mobílias e outros artefatos que dão vida a esta casa, uma das mais senão a mais bonita e emblemática do concelho de Caminha.
Terminamos a vista à “Casa das Miniaturas” nas traseiras do terreno, um espaço amplo onde outrora existiu uma estufa onde o proprietário da casa e a sua esposa plantavam produtos que depois vendiam no mercado. Mas a idade foi avançando e o casal deixou-se dessas coisas. Com a estufa desativada e sem qualquer utilidade, José Gonçalves decidiu desmantelá-la e foi nessa altura que, aproveitando as fundações da mesma, decidiu que dali podia surgir alguma coisa. E foi então que pensou que seria interessante reproduzir naquela espaço, que até era grande, o velho forte da Ínsua, uma construção que conhecia muito bem porque lá tinha trabalhado durante algum tempo por volta dos anos 50.
Depois de reunir as suas memórias e utilizando algumas fotografias, de horas e horas de trabalho, a estufa desativada deu lugar a uma réplica pormenorizada do forte da Ínsua e das construções no seu interior. Os quartéis, várias casas, a Igreja e até um cemitério mostram o que em tempos foi o forte que já foi albergue de frades, de militares e que agora jaz solitário mesmo em frente à Foz do Minho. Dizem que ali irá nascer uma espécie de hotel. Será?
E assim terminamos a visita à “Casa das Miniaturas”, uma espécie de “Caminha dos Pequeninos” que atrai até ao jardim do Sr. José, miúdos e graúdos, conhecidos e estranhos.
De todas as miniaturas que reproduziu, José Gonçalves gosta particularmente da Ínsua e do Chafariz. Por fazer fica o Largo do Turismo, outra das miniaturas que gostava de ver no seu jardim. Mas confessa que já não tem coragem para o fazer. “Agora limito-me a ir conservando estas porque já não dá para fazer mais nada”, remata.