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Sexta-feira, 13 Dezembro, 2024
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Caminha: Intervenção de jovem na Assembleia Municipal alvo de denúncia no Facebook

A intervenção de Pedro Barros Martins na última Assembleia Municipal de Caminha, que o Jornal C – O Caminhense disponibilizou na íntegra, foi alvo de uma denúncia no facebook na passada semana e a publicação foi removida pela plataforma.

O Jornal C – O Caminhense já recorreu da decisão da rede social Facebook e aguarda desenvolvimentos.

Entretanto, partilhamos a intervenção novamente, desta vez por escrito, que nos foi facultada pelo jovem caminhense, na qual Pedro Barros Martins traça um retrato do concelho que diz estar estagnado há 50 anos em comparação com os concelhos vizinhos de Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira.

Para aquele jovem, o turismo não deve ser a única aposta, sublinhando que Caminha é o único concelho do distrito que aposta tudo no turismo, uma atividade sazonal que gera emprego precário.

Pedro Barros Martins, comparando Vila Nova de Cerveira e Viana do Castelo com o concelho de Caminha, explica que o segredo da atratividade daqueles municípios são os seus polos industriais, que atraem empresas, população e investimento.

Intervenção AMC Pedro Barros Martins – 28/06/2024

“Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Caminha e respetiva mesa, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Vereadores da Câmara Municipal de Caminha, Sras. e Srs. Deputados desta Assembleia, caríssimo público aqui presente e online.

O que me traz aqui hoje é a preocupação de um jovem deste concelho, que repara que há 50 anos que Caminha vive estagnada e isolada dos restantes concelhos desta região do Alto Minho, sobretudo dos concelhos mais próximos como Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira.

Caminha tem características únicas que fazem do nosso concelho um local extremamente interessante para o turismo. Temos rios, temos montanhas, temos praias, temos gastronomia, a par de uma vasta cultura e património que nos deve sempre orgulhar. No entanto, há algo que me parece que é esquecido: o turismo é sazonal e típico de um concelho e país pobre.

A estratégia do turismo não deve ser nunca a única aposta de nenhum concelho, muito menos de um concelho onde a meteorologia é extremamente incerta a cada dia que passa. Veja-se só esta última semana que hoje termina.

É precisamente nesta vertente que o nosso concelho é único. É dos únicos concelhos do Alto Minho que a aposta somente no turismo. Diz o ditado que nunca se deve colocar todos os ovos no mesmo cesto.

Urge diversificar a estratégia do nosso concelho, que há 50 anos que estagnou. Sim, há 50 anos que nenhum executivo, seja Partido Socialista ou Partido Social-Democrata, tenha sido verdadeiramente promotor de outra estratégia que beneficiasse os caminhenses.

Mas para que os senhores deputados, os senhores presidentes da junta, os senhores variadores e o senhor Presidente da Câmara Municipal não julguem que vim para aqui fazer demagogia ou vender algum tipo de teoria económica barata, vamos aos números, aos factos e às conclusões que se podem retirar da simples consulta de alguns dados do INE e da PORDATA.

Caminha sofre de um problema de envelhecimento da população, tal como o país, sendo que por cada 100 jovens há 272 idosos. É de extrema relevância criar condições para que
os jovens fiquem no nosso concelho e queiram constituir cá famílias. Não basta haver festas e romarias porque não põem comida na mesa às pessoas. É preciso criar emprego, sobretudo qualificado. O nosso concelho está numa posição privilegiada face aos outros concelhos do Alto Minho. Temos cerca de 17% das pessoas em idade ativa com um curso superior, sendo só ultrapassados por Viana do Castelo. Ou seja, temos talento e pessoas bem capazes na nossa casa. Estamos em linha com os restantes concelhos, com 23% das pessoas em idade ativa com ensino secundário, tão importante para o nosso desenvolvimento. Contudo, somos particularmente capazes de deixar as pessoas saírem do concelho para irem trabalhar ou estudar.

Vamos aos números de 2021.

Caminha vê entrar no concelho cerca de 1.088 pessoas, ao passo que saem de cá 2.614 pessoas, tendo um saldo negativo de 1.526 pessoas. Vejamos Vila Nova de Cerveira, aqui ao lado. Este saldo é positivo no valor de 1.344 pessoas, ou seja, em Vila Nova de Cerveira há bem mais pessoas a entrar do que a sair. Já Viana do Castelo tem também um saldo positivo de 3.486 pessoas. Até Valença consegue ter um saldo negativo bem menor do que Caminha, fixando-se em 299 pessoas. Recordem-se que Caminha é de 1.526.
Mas afinal, o que faz com que Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira tenham este poder atrativo? A resposta é simples, empresas.

Ao longo destes anos, estes dois concelhos vizinhos foram capazes de atrair empresas de valor acrescentado que empregassem a sua população, e até outros, e os retenha por lá a viver, a consumir e a desfrutar.

Vamos comparar os dados de 2019 para os ganhos brutos nesses concelhos. Em média, um trabalhador em Vila Nova de Cerveira ganha 1.086 euros mensais. Em Viana do Castelo ganha um pouco mais, 1.115 euros mensais. Caminha fica pelos 920 euros. Para além de conseguirem captar e atrair pessoas para os seus concelhos, Vila Nova de Cerveira e Viana do Castelo conseguem pagar mais do que Caminha. Aqui está evidente o valor da competitividade.

Mas há mais. As quatro maiores empresas não financeiras, excluindo os bancos, de Viana do Castelo movimentam um volume de negócio de 31% dados de 2022. Já as quatro
maiores empresas não financeiras de Vila Nova de Cerveira são capazes de gerar 63% do valor do negócio. O dobro de Viana do Castelo.

As quatro maiores empresas não financeiras de caminha ficam pelos 16%.

Quer isto dizer que as nossas empresas não são capazes de inovar, progredir e de expandir o seu negócio. Não têm condições para tal. Até do ponto de vista financeiro, a atração de empresas permite a coleta da derrama municipal do IRC, pelo menos, o que poderá ajudar a aliviar a carteira das pessoas em impostos ou até a alavancar novas oportunidades.

Caminha, quando comparada com Vila Nova de Cerveira, tem infraestruturas já criadas que nos deviam dar vantagem competitiva. Temos a A28 a atravessar o nosso concelho, com 4 saídas diretamente para as nossas freguesias.

Mas afinal, do que é que estamos à espera?

Termino, Sr. Presidente, fazendo um sentido de apelo às forças políticas do nosso concelho. Há que criar pontes, diálogo, lembrando que foram todos eleitos pelos caminhenses para resolverem os seus problemas e não para criar outros só por serem de oposição, seja ela qual for. Sinto que não é assim que se atraem jovens para a política local, com discursos do mal dizer, do denegrir ou da demagogia, ou até mesmo de burocracia.

Porque não estabelecer protocolos com agências de desenvolvimento regional e com instituições de ensino superior, como faz o TecMaia?

Por que não fazer como Vila Nova de Cerveira que, em 2022, anunciou a construção do seu terceiro polo industrial no valor de 1.2 milhões de euros, sendo que mais de metade deste valor, 750 mil euros, são comparticipados pelo Programa Operacional Regional do Norte 2020?

Por que não seguir o exemplo da autarquia de Viana do Castelo, que isentou uma empresa do pagamento de taxas de licenciamento do complexo industrial, em contrapartida de um reforço de investimento que permitiu aumentar os postos de trabalho de 300 para 500? Esta proposta socialista foi aprovada por unanimidade.

O que faz com que as outras autarquias fossem as que adotassem estas estratégias e agora tiram os proveitos e nós ficamos encalhados no meio?

Por fim, apelo às forças maioritárias que trabalhem em conjunto numa estratégia a longo prazo, a 30 ou a 40 anos, para que se crie um crescimento sustentável das condições de vida da população.

Em conjunto porque permita a melhoria do Conselho como um todo, em conjunto porque permita a troca de poder executivo, sem descurar a estratégia criada por todos.

Quem me conhece sabe que não vim aqui fazer propaganda política por nenhuma força aqui presente, até porque a minha visão, a nível nacional, não está representada aqui nesta Assembleia. Mas no que toca a política local, somos todos os mesmos, somos todos a tentativa de melhorar a nossa terra, apesar das divergências. Peguem no que vos une e construam um concelho melhor, mais competitivo, mais empreendedor, mais dinâmico, a par do importante turismo e da nossa arte de bem receber.

Façam política séria, coerente e impactante, para que no futuro, novas gentes com novas ideias se sintam ambiciosas em querer contribuir para a sua terra, porque isso é o que nos enriquece.

Aproximam-se as eleições de 2025 e só peço que esse ano seja o início de um virar de página que nos vai ajudar a todos nós e às próximas gerações de caminho.

Obrigado, Sr. Presidente e boa noite a todos.”

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