12.7 C
Caminha Municipality

Enfermeiros já esperam longamente a recontagem do tempo de serviço

Data:

Na cerimónia de abertura e de encerramento do Congresso dos Enfermeiros que decorreu em Braga nos dias 5 a 7 de Maio, estiveram presentes os Srs. Secretários de Estado da Saúde, Drª. Maria Fátima Fonseca e Dr. Lacerda Sales, respectivamente. Ambos, nos seus discursos, se comprometeram publicamente perante as autoridades e todos os presentes, na reposição dos pontos tirados aos Enfermeiros e na contagem do tempo, quando era Ministra da Saúde a Drª. Ana Jorge, do “famigerado” governo de José Sócrates.

No Dia Internacional do Enfermeiro, a Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, voltou ao assunto e comprometeu-se nesta reposição e valorização da Carreira de Enfermagem, até ao final do presente ano.

Estamos admirados com esta mudança de atitude e vontade de diálogo da Srª. Ministra e do Governo Socialista, que até agora perseguiu os Enfermeiros, insultou-os, não os recebeu em audiência, e retirou pontos da contagem de tempo, “congelou a carreira” e não repôs o que o próprio Governo Socialista de outros tempos retirou! Mas qual será a razão desta mudança tão repentina de atitude? Parece-nos simples! Começa a haver sentenças dos Tribunais, dando razão aos Enfermeiros, sobre a contagem de tempo e os pontos indevidamente retirados. Ora bem, parece-nos que o Governo, perante estas sentenças que não lhe são favoráveis, quer-se antecipar e por isso pretende negociar e atribuir os pontos e normalizar a contagem de tempo. Ao fazê-lo “na secretaria”, cria um facto político, repõe aquilo que a Justiça lhe iria obrigar a fazer, e depois, pode dizer que foi o Governo que decidiu! Usa uma estratégia para os mais distraídos, para tentar ficar bem na “fotografia”.

E a atitude é tão diferente, que até a Srª. Ministra da Saúde dedica uma mensagem no Dia Internacional do Enfermeiro, contrariamente ao que fez no passado, “reconhecendo o papel de relevo dos Enfermeiros na melhoria dos cuidados de saúde que o SNS presta às populações”. Reconhece que os Enfermeiros são uma “peça fundamental de uma resposta maior, o nosso SNS”. Assume a “criação de pontes”, a reposição dos pontos perdidos e afirma que está “comprometida com os Enfermeiros em particular”!

Ao longo da sua mensagem dedica palavras de reconhecimento, do sacrifício pessoal e dedicação que os Enfermeiros deram ao SNS. No passado nem pronunciava a palavra “Enfermeiro(s)”! Que estranho este reconhecimento! Que mudança de estratégia e de atitude! Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O que aí virá?

Para efectivamente demonstrar o quanto os Enfermeiros dedicam o seu esforço, prestação e sacrifício, apesar de mau remunerados e não reconhecidos, deixo alguns resultados alarmantes e assustadores de um estudo realizado e divulgado no Congresso dos Enfermeiros, pela Profª. Doutora Raquel Varela e outros Professores/Colaboradores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho/Nova FCSH:

  • Enfermeiros mais antigos na profissão e mais velhos sofrem de maior exaustão emocional;
  • Profissionais com maior carga horária têm maiores índices de esgotamento emocional;
  • Enfermeiros (mais de 26%) trabalham em média demasiadas horas por semana com casos extremos acima de 70 horas;
  • A maioria dos Enfermeiros (65%), exercem a sua profissão no sector público e em contexto hospitalar;
  • Têm horário rotativo (57%) e trabalho por turnos (74%), com uma percentagem elevada de trabalho nocturno (60%);
  • Entre muitos indicadores ressalta um, em que um número importante de Enfermeiros (97,2%), não gozam de sete dias seguidos de férias há mais de 350 dias;
  • Muitos destes valores reflectem-se no índice comparável, (inter-classes profissionais) de exaustão emocional de 3,42 pontos, bastante acima do valor de 2 pontos, considerado normal.
  • Uma carga horária excessiva corresponde em média os maiores níveis de esgotamento emocional. Os Enfermeiros que trabalham mais horas têm índices mais preocupantes de burnout.

Perante estes indicadores, resultados e conclusões do presente estudo, é deveras assustador o desgaste físico, emocional e psicológico que os Enfermeiros sofrem.

Este estudo veio trazer ao conhecimento público aquilo que a Ordem dos Enfermeiros suspeitavam e que a Srª. Bastonária vem há muito tempo, dizendo. Há efectivamente necessidade de reavaliar a Carreira de Enfermagem, reconhecer a Profissão de Enfermeiro como uma profissão de risco e desgaste rápido e por isso antecipar a idade da reforma, atribuindo também o subsídio de risco, como acontece em outras profissões e atribuído recentemente.

De promessas políticas e boas intenções, estão já os Enfermeiros cheios. Os Governantes e políticos têm trilhado um caminho da descrença, com discursos e atitudes descredibilizadas e de fundamentalismo, sem (re)conhecer a realidade e com isso, infelizmente, é o comum e pobre Cidadão, que se vê afastado de melhores cuidados de saúde. Aguardemos agora, o que estes “vendedores de promessas” recentes, vão fazer!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2022.05.18

Humberto Domingues
Humberto Domingues
Enfermeiro. Especialista em Saúde Comunitária

Partilhar Artigo:

spot_img
spot_imgspot_img

Populares

Outros Artigos
Relacionados

Maioria PSD na Câmara de Arcos de Valdevez aprova orçamento de 51 ME para 2026

Arcos de Valdevez, Viana do Castelo, 12 dez 2025...

Ponte de Lima (CDS) aprova orçamento de 65 ME para 2026

Ponte de Lima, Viana do Castelo, 12 dez 2025...

Caminha: Pai Natal chega no domingo à Mata do Camarido

O Pai Natal chega à Camarilândia este domingo, dia...

Novo acordo com o INEM obriga Bombeiros de Caminha a adquirir nova ambulância de emergência

A Associação dos Bombeiros Voluntários de Caminha foi obrigada...