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Quinta-feira, 24 Abril, 2025
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Lego uma brincadeira de miúdos capaz de viciar graúdos

É uma paixão de infância que durante alguns anos esteve adormecida por vergonha de assumir que aos 14 anos ainda gostava de brincar com Lego. Jorge Reis, natural de Caminha, é hoje um dos muitos adultos que se deixa fascinar pelas construções que fazem parte do imaginário da nossa infância.

Numa entrevista ao jornal C confessa que na adolescência, teve que esconder a sua paixão.

Terminada a licenciatura decidiu por de lado o preconceito e pediu de prenda de final de curso à avó, um lego que na altura custou 20 contos.

A partir daí nunca mais deixou de “brincar” com estas construções. Professor de profissão, este caminhense usa o Lego para explicar muitas coisas aos seus alunos.

Conta na sua coleção com milhares e milhares de peças que guarda religiosamente num apartamento onde passa algumas horas dedicado às construções que aprendeu a gostar de pequenino.

O Jornal C foi conhecer melhor esta paixão de Jorge Reis e também um pouco da história deste brinquedo que nasceu há 75 anos.

 

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Jornal Caminhense (JC)  – Jorge Reis como e quando se apaixonou pelas construções Lego?

Jorge Reis (JR) – Dede muito pequeno que comecei a brincar com lego, lembro-me que os meus pais me compravam umas caixinhas e eu fui crescendo a brincar com essas construções que faziam parte do imaginário de qualquer criança daquela altura, estamos a falar dos anos 70.

Não se pode dizer que fosse um brinquedo barato mas felizmente eu tive oportunidade de ter alguns e passava horas a brincar com eles. Brinquei com lego até mais ou menos aos 14 anos, altura em que parei.

Depois a paixão que unicamente estava adormecida, voltou a manifestar-se quando acabei o curso. Quando a minha avó me perguntou o que é que eu queria de prenda de final de curso não hesitei, pedi-lhe uma caixa de lego que na altura custava 20 contos. Ela concordou e eu fui todo contente comprar esse lego que era um lego technic, mais de adulto, com mecanismos, mais adequado à minha idade.

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JC – Disse que a partir dos 14 anos e até acabar o curso não brincou mais com lego, porquê?

JR – Acho que por vergonha porque a minha paixão continuava intacta, mas sabe como é há uns anos atrás brincar com lego já na fase adulta era um pouco complicado. Aos 24 anos pus de parte o preconceito e comecei a comprar outra vez lego que acabaram por me servir para as minhas aulas. Era lego com mecanismos através dos quais eu até podia ensinar algumas coisas uma vez que sou professor de educação visual e educação tecnológica.

Através do lego, por exemplo, conseguia mostrar aos miúdos como funcionava o motor de um carro, suspensões, mecanismo de gruas, enfim várias coisas.

A partir daí todos os anos comprava uma caixa de lego  technic que eram aqueles que mais se adaptavam à minha profissão de professor.

À medida que o tempo ia passando a paixão pelo lego ia aumentando e percebi que não era o único. Fui pesquisando e verifiquei que tal como eu existiam em Portugal muitos adultos com esta paixão e então decidi formar uma associação.

 

JC – E que associação é essa e para que serve?

JR – É uma associação que permite a pessoas apaixonadas por lego como eu, juntaram-se e partilharem as suas construções, falarem sobre este hobbie, organizar exposições, enfim formar uma comunidade lego.

E tem sido assim desde 1995 com uma coleção de lego sempre a crescer.

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JC – Passados todos estes anos ainda se lembra qual foi o seu primeiro lego?

JR – Lembro-me perfeitamente, era uma caixinha que permitia construir umas casas, na altura ainda não havia figuras, surgiram mais tarde. Era um lego com peças ainda muito básicas, com apenas 5 cores. Estamos em 1975.

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JC – Daí para a frente ouve uma grande evolução.

JR – Sem dúvida e essa evolução deu-se não só nas peças básicas, no chamado brick, ou tijolo, mas também através do aparecimento de novas peças. Hoje em dia temos uma panóplia de peças que nos permite construir tudo e mais alguma coisa. Só para ter uma ideia conseguimos construir comboios desde os mais antigos aos mais modernos, portugueses ou internacionais, conseguimos fazer barcos, monumentos, máquinas diabólicas que funcionam através de mecanismos, robôs, enfim tudo o que se possa imaginar. Isto evoluiu de tal maneira que o lego deixou de apenas uma brincadeira de crianças mas tornou-se um brinquedo para adultos e com enorme importância para os colecionadores.

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JC – É fácil ficar-se viciado? 

JR – É muito fácil. Não há nada melhor do que terminar um dia de trabalho, abrir uma caixinha de lego e ficar ali entretido a construir. Até parece que os problemas desaparecem. Acaba por ser uma terapia e também um vício, mas digamos que um vício bom.

 

JC – Tem ideia de quantas peças tem na sua coleção? 

JR – Sim, tenho tudo contabilizado. Existem sites onde nós podemos ir registando as nossas coleções. Num desses sites tenho registada a minha coleção, todos os conjuntos que vou comprando vou pondo lá as referências. Em 1970 as referencias tinham 3 números e neste momento já vamos nos cinco dígitos.No meu caso tenho lego desde 1963 que é o conjunto mais antigo que tenho, até um que saiu na passada semana. Assim sendo posso-lhe dizer que tenho mais de 3 mil conjuntos de lego, aliás eu tenho uma casa só para guardar as minhas coleções.

 

JC – É um colecionador compulsivo? 

JR – Sim, colecionador e construtor. O Lego tem uma aposta muito forte nos adultos, no chamado Lego 18+.

 

JC – Fale-me um pouco da história da Lego.

JR – A Lego já existe pelo menos há 75 anos e começou por ser um brinquedo de madeira e surgiu na Dinamarca numa fábrica de móveis. O dono dessa fábrica com os restos de madeira começou a construir brinquedos a que deu o nome de Lego, a junção de duas palavras dinamarquesas que traduzidas para português significa brinca bem.Com a industrialização e a descoberta das máquinas de injeção, a Lego surgiu com peças em plástico.O que começou por ser um brinquedo transformou-se numa forma de educar as crianças, numa forma de estar na vida e até num bom rendimento. A compra e venda de lego é muito importante e tem crescido imenso. A própria empresa também cresceu bastante.

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JC – O Lego nasceu na Dinamarca. Quando é que chega a Portugal? 

JR – Chega a Portugal um pouco mais tarde. Só por volta de 1967/68 é que aparecem os primeiros conjuntos. Foram trazidos pelos arquitetos que perceberam a possibilidade de, com aquelas pecinhas, fazerem maquetas para apresentar os projetos aos seus clientes. A partir dos anos 70 começa a fazer parte do imaginários de qualquer criança.

JC – Como é que se explica que num mundo onde a tecnologia tomou conta das brincadeiras dos mais novos, o Lego ainda sobreviva? 

R – Porque se posicionou de uma forma que faz com que esteja sempre atual. Tem acompanhado e exemplo disso são os robots da Lego. Depois também existem programas que tornam o lego mais interativo, basta ter um Tablet ou um PC  e conseguimos fazer construções virtuais.

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JC – Hoje em dia fala-se muito no plástico e nos problemas que causa ao ambiente. Não acha que a marca deveria ter essa preocupação? 

JR – Acho e a verdade é que já a tem. Neste momento a Lego já está a encontrar produtos novos para substituir o plástico e já existem peças construídas a partir de cana de bambu para substituir o tradicional plástico com que são feitas as peças. Outro exemplo,: como sabe todas as pecinhas da lego vêm embaladas em pequenos casos de plástico que brevemente serão substituídos por sacos de papel. Para alem da preocupação tecnológica, a Lego também tem esta grande preocupação ambiental.

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JC – Dos todos os conjuntos Lego que possui, consegue eleger aquele que mais gosta e que nunca venderia? 

JR – Já há muitos anos que ando a tentar descobrir qual é a minha peça preferida para as construções e a verdade é que ainda não consegui porque tenho uma paixão enorme por todas elas e estou a falar de cerca de 1 milhão de peças que tenho em casa, além dos 3 mil conjuntos de que já falei.Há uma peça que eu considero muito atrativa e que são as mini figuras porque a partir delas conseguimos tornar a construção muito mais atrativa quando queremos mostrar determinadas cenas. Se nós por exemplo queremos construir uma cidade temos que ter pessoas e por isso a mini figura é fundamental, mas há outras dentro das 5 mil peças que a Lego tem que eu gosto.

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JC – Sei que uma das suas maiores construções é uma réplica do Navio Escola Sagres. Foi a sua mãe que me disse. Como foi construir esta peça?

JR – De facto a Sagres é uma das minhas maiores construções, tem cerca de 20 mil peças e foi feita com a ajuda da minha mãe, foi ela que fez as velas.

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JC – A sua mãe também gosta de Lego?

JR – Sim ela também gosta muito. Como ela é professora, percebeu a mais valia da Lego, um brinquedo que nos desenvolvia a nível artístico mas também do cálculo mental. A minha mãe percebendo esta pedagogia, brincava comigo e com o meu irmão.

Voltando à Sagres, foi um desafio que eu lancei a mim mesmo porque tendo na família um grande construtor de barcos, o meu tio Lopes, acabei por desenvolver uma grande paixão pelo rio e pelos barcos.

O Navio Escola Sagres que construí tem um metro comprimento por um metro de altura.

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JC – Quanto tempo demorou a construir a embarcação?

JR – Cerca de dois anos. Primeiro construí o casco, depois o convés e depois a parte dos mastros. Por vezes demoramos mais tempo porque a Lego nem sempre tem disponíveis as peças que precisamos e temos que esperar.

 

JC –  Qual foi o último lego que fez?

JR – Foi um presépio que é uma criação minha.

 

 JC – Sei que outra das suas paixões são os comboios?

JR – É verdade, gosto muito de construir comboios, principalmente comboios portugueses, a famosa1400  que é aquela locomotiva cor de laranja que muitas vezes ainda passa aqui na linha do Minho. Tenho várias reproduções de comboios.

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JC – Como é que funciona o processo criativo das vossas próprias construções?

JR – Olhe posso dizer-lhe que às vezes esse processo criativo nasce do nada. No caso do presépio, por exemplo, vi uma caixa de de Ferrero Roché e pensei que seria giro comprar a caixa e fazer uma construção que desse para gradar dentro dessa caixa. Confesso que na altura não me lembrei do presépio mas como estamos a chegar à altura do Natal e porque a gata que tenho lá em casa me anda sempre a destruir o presépio, decidi fazer este que fica protegido dentro da caixa.Às vezes estou a ver um filme e há uma imagem que me fica na cabeça e acabo por reproduzir essa mesma imagem. Eu gosto muito de dioramas que são cenas de filmes que eu consigo reproduzir, pode ser uma rua com casas, um determinado ambiente. Às vezes passo por uma casa muito bonita e depois reproduzo, ou um carro, a imaginação não tem limites.

 

JC – Neste momento está a trabalhar nalgum projeto?

JR – Sim estou a trabalhar no projeto Braga Romana que é uma atividade que eu participo com os meus alunos e estou a recriar o ambiente das casas romanas em Lego. Pesquisei tudo o que era ambiente dessas casas.

 

JC – Quanto tempo por dia consegue dedicar às construções?

JR – Depende, mas uma coisa lhe garanto, todos os dias eu brinco com lego. Por vezes também faço pesquisas no vários sites e fóruns, vejo o que se está a fazer por esse mundo fora. É uma forma de eu relaxar um pouco ao fim de uma dia de trabalho e isso faz-se bem.Gosto de poder ir até ao apartamento onde só tenho Lego, principalmente ao fim-de-semana e passar lá algumas horas a ouvir música e a fazer construções.

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JC – Jorge onde é que as pessoas podem seguir esta sua paixão? Imagino que nas redes socais.

JR – Sim as pessoas podem ir ao facebook e no Instagram onde eu partilho algumas das minhas construções, mas essencialmente no fórum da PLUG que é a associação que eu ajudei a criar e que podem procurar em www.plug.pt

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JC – Há muitos amantes de Lego em Portugal?

JR – Olhe quando eu decidi sair da caixa e perder a vergonha de gostar de Lego, confesso que era difícil encontrar pessoas com a mesma paixão, hoje em dia é quase como dar um pontapé numa pedra que aparecem logo dois ou três.Mas sim, há muita gente em Portugal e gostar e a vender Lego. Há muita gente adulta a gostar e a verdade é que a nossa associação contribuiu muito para isso, fez com que muitos adultos perdessem a vergonha e assumissem a sua paixão.A título de curiosidade, a primeira grande exposição da Plug foi aqui em Caminha na Biblioteca Municipal e reuniu num Verão pessoas de vários pontos do pais que vieram para cá durante vários dias expor as suas peças.Atualmente fazem-se várias exposições por todo o país que enchem pavilhões enormes. Eu organizo uma em Braga que ocupa uma área de 5 mil metros quadrados.

 

JC – Costuma participar em exposições?

JR – Sim já participei em algumas não só em Portugal mas também no estrangeiro, nomeadamente Madrid, Barcelona, Holanda.

 

JC – Há alguma que seja uma referencias?

JR – Para mim aquela que eu considero o top do top das exposições é uma que se faz na Dinamarca só para adultos que vão lá expor. Há uma em Chicago que também é muito boa e em Portugal há várias.

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JC – Para terminar: passados todos estes anos é correto afirmar-se que o lego continua na moda?

JR – ´É corretíssimo, de facto o lego nunca saiu de moda e até me atrevo a dizer que está mais na moda do que nunca. Há imensas figuras públicas a assumirem a sua paixão por lego e a dizerem publicamente que constroem lego.Repare, quando entra num hipermercado e vai à secção de brinquedos, qual é a prateleira com maior escolha. É a do lego sem dúvida.Nota-se uma grande aposta na marca, nas escolas, com a linha da educação, há muitos professores a nível nacional a levarem projetos Lego para as escolas , o que o torna ainda mais atrativo. Tudo isto faz com que a Lego seja um brinquedo recomendado.

 

JC – Consegue desfazer-se dos seus Lego? Ou seja consegue vender algum que faça parte da sua coleção?

JR – Não, a não ser que seja algum que eu compre já a pensar em vender mais tarde. Por vezes isso acontece quando surge uma boa oportunidade. Agora os da minha coleção nunca, não consigo. É uma forma de estar.

 

JC – Costuma comprar muitos Lego durante o ano.

JR – A Lego lança em média 800 conjuntos por ano e desses eu tento sempre comprar uma média de 300.

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E agora que vamos todos estar mais por casa mais tempo, lançamos aqui um desafio para o seus tempos livres: arranje uma caixinha de lego e dê largas à sua imaginação.

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