O MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço não vai ter continuidade em 2026 devido à falta de apoio da autarquia, que apoiava o evento com cerca de 140 mil euros, revelou hoje a organização.
“Conseguíamos realizar o festival com o apoio da câmara e um apoio simbólico do ICA [Instituto do Cinema e Audiovisual]. O apoio da câmara era de cerca de 140 mil euros, representando 90% do total do apoio total. Sem esta verba é inviável realizar o evento”, explicou Carlos Viana da AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, organizadora do MDOC.
Em comunicado, a AO NORTE diz que soube, em reunião com o atual executivo municipal (a liderança da autarquia mudou do PS para o PSD após as eleições autárquicas de outubro), “que o festival não terá continuidade em 2026 devido a fortes constrangimentos financeiros”.
Assim, a AO NORTE lamenta “não estarem reunidas as condições para a continuidade” do trabalho.
Carlos Viana diz que “todas as possibilidades” estão a ser analisadas relativamente ao futuro do festival que se realizava em Melgaço, no distrito de Viana do Castelo, admitindo estar em causa um “possível fim” do evento que conta com 11 edições.
“Não há, por parte de outras instituições públicas, nenhum apoio. Consideramos que outras entidades, como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, tinham também a obrigação de apoiar iniciativas destas, que ajudam a transformar o território e a democratizar a cultura”, afirmou.
A organização considera que “o MDOC projetou Melgaço no mundo e trouxe o mundo a Melgaço”.
“A sua seleção competitiva, colocou a vila no circuito cinematográfico internacional, promovendo o debate sobre temas globais – como conflitos sociais e migrações – a partir de uma perspetiva humanista. O festival consolidou-se como um ponto de encontro entre o local e o global, a memória e a atualidade, afirmando o cinema como ferramenta para compreender e transformar a realidade”, observa.
De acordo com a organização, na mais recente edição, o MDOC contou com 5.946 participantes.
“Nascido em 2014, o MDOC elegeu desde o início temas urgentes, como a emigração, demonstrando uma forte ligação ao território e às suas gentes. Afirmou-se como um evento cultural de profunda relevância, transcendendo a mera exibição cinematográfica para se tornar um agente ativo de transformação social e preservação da memória”, sublinha a AO NORTE.
Os organizadores lembram ainda que “festival envolveu diretamente a população, criando um arquivo etnográfico e fílmico precioso que documenta a identidade local”.
“Os 40 documentários produzidos no concelho, as 38 Fotografias Faladas, os livros e fotolivros publicados e as projeções ao ar livre nas freguesias exemplificam esta democratização da cultura e o diálogo com a comunidade”, descrevem.
A Lusa contactou o presidente da câmara de Melgaço, José Albano Domingues, mas não obteve resposta até ao momento.



