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Cestada de Venade: antídoto para a solidão

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«Estamos em crise!»

Esta é uma das frases que mais ouvimos: seja nos media, seja nas conversas caseiras. É também um dos assuntos mais correntes do nosso vocabulário. Mas que crise é esta que é notícia em todos os noticiários? Que crise é esta que tanto nos assusta? Que monstro é este que atemoriza as nossas famílias e os nossos lares?

Não é apenas pela economia que estamos na penúria! A crise é muito mais que euros e cifrões! A crise e as crises começam nos nossos lares:

crise familiar que põe em causa o alicerce da civilização;

crise dos laços: de amizade ou de familiaridade;

crise de afectos;

crise de diálogo;

crise de conhecimento dos alicerces familiares;

crise da reverência devida aos maiores…

Tanta e tão grande crise!

 

Contudo, na Paróquia de Venade, nestes dias, não há tempo para a crise!

No âmbito da Cestada de Venade, neste Sábado, 8 de Setembro, é o dia da cortada do milho e da construção dos medeiros: o adro da Igreja fica repleto de medeiros de milho secando à espera de ser desfolhado.

Num tempo em que o diálogo é esmagado pela solidão, mesmo dentro de casa, propomos a salutar convivência!

Não é que sejam negativos e prejudiciais, mas tantos são os motivos que nos levam a estar isolados de tudo e todos: os trabalhos que colocam um em cada lado e os filhos nas escolas; em casa um televisor na cozinha que não deixa as conversas fluírem durante as refeições; um dos elementos da família que está no televisor da sala, outro no quarto, outro na internet do escritório, outro a terminar o projecto que iniciou no trabalho…

O ritmo descontrolado na vida familiar, tantas vezes, gera e desenvolve sintomas e realidades gravíssimas de solidão, onde os esposos não têm diálogo entre si, vivem ao lado dos filhos e esquecem os seus pais e parentes próximos. Não basta criar condições de bem-estar material com casas luxuosas, equipamentos sofisticados, concessão dos últimos gritos e modelos nas variadas linhas de oferta consumista. As pessoas mergulhadas na abundância de bens materiais podem viver na mais profunda solidão gerada pela frieza das jóias e dinheiro. Quantos pais inebriados em dar objectos, os mais caros, cedendo a todos os caprichos das crianças, adolescentes e jovens, seus filhos. Esta mentalidade consumista e solitária gera autênticos “monstros” de egoísmo, que, amanhã, vão viver o drama da solidão por incapacidade psicológica de se darem e partilharem.

A “sociedade de hoje” não atribui grande valor ao egoísmo desenfreado e ao individualismo sem limites, como características de uma competitividade sem regras. As pessoas nascem, crescem, lutam e vivem num clima estruturalmente gerador de solidão e é urgente inverter a sua marcha. Não depende apenas dos outros. Cabe a cada um reconhecer a intercomunicação radical que a todos une e a vida separa, e aceitar que ser Homem ou Mulher implica necessariamente ser, estar e viver com os outros. Só assim há verdadeira humanização e se rompem as barreiras da solidão.

É uma preocupação constante da Paróquia de Santa Eulália de Venade que os seus cristãos não sejam submetidos a este flagelo da solidão, que ao ser humano é contra-natura. É necessário criar “espaços de humanização”, onde o ser humano se sinta cada vez mais humano, porque relacional. Esta foi a ideia que presidiu à instituição das “Antoninas de Venade” – a festa da família, de todos os elementos da família. Os momentos de diálogo são necessários.

Durante a manhã do segundo Sábado de Setembro, a população de Venade, convidada a reunir-se e a trabalhar, convivendo, partilhando vidas com a alegria própria da festa da colheita: canta e ri, dando graças e bendizendo a hora difícil da sementeira. Os medeiros são construídos e distribuídos ao longo de todo o adro. Não é apenas para que a espiga fique bem seca (isso poderia ter-se feito nas leiras): também eles são um ensinamento em si. Uma cana de milho sozinha cai e não tem consistência, a solidão em que se encontra não é para si motivo de força. Pelo contrário, o medeiro segura-se de pé e resiste ao vento e à chuva, por causa do sentido comunitário: são imensos pés de milho unidos pelo colmo que os envolve: vale a pena viver assim: em comunidade porque unidos e envolvidos somos mais fortes!

A gente fala.

Canta.

Trabalha.

Constrói…

Podemos crescer enquanto pessoas, praticando de um modo mais intenso aquilo que o ser humano é : relação – com os outros e com O Totalmente outro.

 

 

P. Paulo Emanuel

CESTADA – festa em Venade

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