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Sexta-feira, 5 Julho, 2024
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Caminha e os outros concelhos do alto minho, Emprego, Educação e Saúde


É preciso sair da ilha para ver a ilha.
Não nos vemos se não saímos de nós.
José Saramago


Na edição anterior vimos como Caminha não lidera e nem sequer acompanha o dinamismo económico de outros concelhos do alto minho e como isso se repercute na carga fiscal e
para-fiscal para os residentes e na dívida do município. Mas será que isto afeta de facto os caminhenses?

Segundo o estudo Bloom Consulting Portugal City Brand, Caminha é o 6º concelho do alto minho no ranking da atratividade geral. Para Visitar é o 3º depois de Viana e Ponte do Lima. Para Viver é o 5º e para fazer negócios é o 7º, só melhor que a Barca, Coura e Melgaço.

ranking

Estando Caminha na Mediana do critério “Viver” importa perceber como se vive de facto, começando por olhar um pouco para a quantidade e qualidade do emprego e trabalho que Caminha oferece.

conta outrem

Cerveira e Arcos, concelhos com muito menos população que Caminha, criaram em 10 anos mais de 1.300 postos de trabalho, já para não falar de Viana ou Ponte do Lima. Coura e Monção umas boas centenas. Nuns concelhos mais que outros, criaram-se postos de trabalho.

Mas Caminha apresenta neste indicador, resultados que certamente quem trabalha e vive ou então, teve de sair de Caminha para procurar trabalho, conhece. Destruíram-se quase 200 postos de trabalho. Ou seja, Caminha em lugar de atrair residentes que trabalhem e paguem impostos, afasta-os.

O número de empregos é claro importante, mas a sua qualidade e remuneração também. Vejamos então como evoluiu a remuneração dos trabalhadores e funcionários no país, no alto minho e no nosso concelho.

ganho medio

Sabemos como em Portugal, com os anos da Troika a atravessar a década, a melhoria das remunerações não foi excecional, com 12% na média do país, no norte a crescerem 17% e no alto minho a crescerem 18%.

Mas há casos que merecem destaque, por saírem fora dessa média, desde logo pela positiva Paredes de Coura, cujo ganho médio por trabalhador cresceu 31%, duas vezes e meia a média do país.

Outros, infelizmente destacam-se pela negativa, caso de Caminha que viu os seus trabalhadores terem a mesma remuneração em 2019 que tinham em 2010. Perderam-se empregos e os que se mantém são mais mal remunerados. Até nos propalados serviços com o Turismo incluído.

Vemos então que Caminha é um concelho que perde emprego e os empregos que existem são mais mal remunerados do que há 10 anos, se descontarmos a inflação. que Que outros efeitos tem esta realidade?

alunos matriculados

Se não se criam empregos bem remunerados, não se atraem profissionais, não aumenta o número de residentes em idade ativa, não se formam famílias, não nascem crianças, o resultado vê-se no ensino.

Todo o alto minho perdeu população em idade escolar, com uma média de 26%. Mas Melgaço, perdendo 53% e Caminha com 50% foram os mais afetados. No caso dos alunos no ensino secundário, essa redução foi quase de 2/3. E, com esta redução escolar, reduziu-se naturalmente o número de professores e funcionários.

Mas, o resultado talvez mais preocupante revela-se quando olhamos para o perfil das escolas do ensino básico e as comparamos entre concelhos do alto minho, mais uma vez.

alunos por escola

Caminha tem no alto minho, o mais baixo número médio de alunos do 1º ciclo por escola, metade da média da região, do norte e do país. Contrasta com Paredes de Coura, cujas “mega escolas” concentram uma média de mais de 200 alunos, 10 turmas.

Alguns dirão que essas mega escolas, são impessoais, ambientes demasiado massificados para alunos de 6 ou 7 anos. Certamente isto é verdade, mas, somente com determinada escala mínima – 4 a 6 turmas, 80 a 100 alunos – as escolas podem oferecer serviços e salas adequadas e adaptadas, bibliotecas, equipamentos desportivos, salas multimédia, refeitório e unidades para integração de alunos com necessidades especificas.

Com a dimensão média das EB de Caminha (45 alunos), há turmas que misturam anos letivos, com o esforço e dificuldades acrescidas que isso representa para alunos e professores. Há isolamento e a vida escolar numa “bolha”. Não é possível oferecer a diversidade de atividades que equipamentos múltiplos permitem.

Outros dirão que esta dispersão de escolas é o que permite diminuir a necessidade de deslocações enormes dos alunos. Mas uma escola em DEM que serve todas as argas implica deslocações. E no centro de caminha há 2 escolas com a valência do 1º ciclo.

Os residentes em Caminha, que vivem estas realidades no dia a dia saberão certamente como esta realidade os afeta. Tal como sabem as estruturas de saúde das quais o concelho dispõe.

Quando fazemos uma primeira análise em termos de estruturas de saúde, há dados que são surpreendentes:

saude 1

Dizem-nos estes dados que Caminha tem 84 médicos, 15 Dentistas, 63 Enfermeiros e 18 Farmacêuticos. Os residentes em Caminha saberão, quantos desses 84 médicos prestam serviço de facto em Caminha. Deve ser com este tipo de dados que a ministra da saúde toma decisões.

Quando nos debruçamos mais em detalhe sobre a informação básica, deparamo-nos com uma realidade muito diferente:

saude 2

A USF Foz do Minho, em Caminha, tem a segunda cobertura mais baixa de médicos de família, com cerca de 1.500 caminhenses sem médico de família atribuído.

Agregando os concelhos, Caminha tem o número mais alto de Residentes por Médico de família, bem superior aos 1500 que o próprio ministério da saúde define como limite.

saude 3

Nesta publicação, completamos a iniciada no mês anterior, olhando para o concelho de Caminha em termos de População, Economia, Emprego, Educação e Saúde. E comparando a nossa terra, com os outros concelhos do alto minho.

População cada vez mais envelhecida, produção de riqueza dependente do turismo e dos meses de verão, gastos públicos elevados em relação à riqueza produzida, enorme perda de empregos privados e públicos (só nas escolas, entre professores e outros profissionais são menos 100 postos de trabalho em 10 anos), redução nas remunerações médias, população escolar que se reduziu a metade em 20 anos, saúde primária que não cumpre os mínimos que o próprio governo determina.

Este é o retrato de muitos concelhos do interior profundo de Portugal, mas que não seria de esperar de um Concelho como Caminha, no litoral, tendo a 50 minutos 2 aeroportos internacionais e 2 portos de enorme movimento, ligado pela ferrovia ao Porto e a Vigo também, com um mar territorial imenso, uma bacia fluvial invejável e a partilha duma serra d’Arga, única no país.

Saberão os residentes em Caminha o que foi, e não foi, feito nos últimos 20 anos. As várias versões do PDM, que em lugar de regular, legalizam o ilegal; a incapacidade para criar uma zona industrial e atrair empresas exportadoras, que criam emprego, atraem residentes e aumentam as receitas do município; até no turismo a incapacidade para criar uma oferta estruturante e estruturada; no Ensino superior, Ciência e tecnologia, nem um polo do IPVC foi Caminha capaz de atrair; enfim, navegar à vista, à mercê das marés e andar ao corrico.

Leiria, 16 de Junho de 2022

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