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António Calçada de Sá – O gestor de sucesso que não esquece “este cantinho de Portugal”

 

 

 

Foi notícia em 2011 ao vencer o prémio de melhor gestor ibérico do ano e, em 2014, António Calçada de Sá, diretor executivo da Repsol e presidente da Repsol Portuguesa, volta a dar que falar ao ser condecorado pelo presidente da República com a Ordem Nacional do Infante D. Henrique com a categoria de Comendador.

A comenda foi-lhe atribuída graças à sua excepcional trajetória profissional como executivo do grupo Repsol, e pela sua contribuição nas relações bilaterais de Portugal e Espanha enquanto presidente da Câmara Hispano Portuguesa de Comércio e Indústria em Madrid. A viver atualmente na capital espanhola, António Calçada de Sá não dispensa as férias na terra que o viu nascer.

É em Caminha, mais concretamente na freguesia de Venade, que estão as suas raízes e também a mãe, Ana Calçada de Sá, talvez a maior referência na sua vida e por quem nutre um carinho e uma admiração muito especiais. Por estes dias é frequente ver o Sá, como é conhecido pelos amigos, a andar por aí. O tempo de férias é passado em atividades com os filhos, em conversas com os amigos, leituras e também o desporto que gosta de praticar ao seu ritmo.
Traz tudo mais ou menos programado porque, mesmo de férias, António Calçada de Sá confessa a dificuldade que tem em se separar da sua agenda.

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Em entrevista ao Jornal C o agora Comendador, que é também membro fundador do Conselho da Diáspora Portuguesa no Mundo, começou por revelar o que sentiu quando soube da condecoração que lhe tinha sido atribuída.

“É uma grande honra e é também uma responsabilidade acrescida como português. Considero que é uma distinção muito bonita que eu faço questão de partilhar com muitas pessoas que ao longo da minha vida e da minha carreira, me ajudaram a estar aqui. Traduzindo isto para o futebol eu diria que há sempre uma equipa e há sempre muita gente a passar a bola para que depois alguém acabe por rematar e marcar os golos”, explica.

António Calçada de Sá nasceu em Caminha e viveu a sua infância e adolescência em Venade. Desta fase da sua vida, o gestor da Repsol guarda boas recordações e garante que nunca se sentiu à parte pelo facto de viver “num cantinho de Portugal”.

“Vivi aqui muito intensamente a minha infância e juventude até ir estudar para fora. Ainda hoje guardo belíssimas recordações daquela época a vários níveis. Tanto no desporto como na música e até nos estudos, eu acho que me diverti imenso e tenho saudades daquela época”.

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Apesar de viver no tal “cantinho de Portugal”, António Calçada de Sá cresceu com os olhos postos no horizonte, um horizonte que lhe revelava um outro país, Espanha, a nação que acabaria por ser determinante na sua vida.

“Eu desde muito pequeno que olhava para as pessoas que vinham de fora e observava muito, aliás isso deve ser uma das coisas que eu herdei da minha mãe que é uma boa observadora. Eu olhava para essas pessoas que vinham de Lisboa e de outros países da Europa e tinha a certeza que a minha vida haveria de passar por uma cidade grande.”

Terminados os estudos secundários António de Sá ruma até Lisboa para estudar e foi lá que começou a sua carreira profissional ao trabalhar numa multinacional americana.

“Nessa altura tive oportunidade de viajar bastante por diversos países e um dos países para o qual eu costumava viajar frequentemente era Espanha. Eu gostava porque desde pequeno que tinha uma grande afinidade com o país vizinho. Estava habituado a ver televisão espanhola, a ter afinidade com os espanhóis que viviam mesmo em frente a mim. Eu abria a janela do meu quarto e a primeira imagem que tinha à frente era Espanha e por isso nunca tive essa imagem de que de Espanha nem bom vento nem bom casamento”.

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E não podia estar mais certo disso já que mais tarde acabaria por casar com uma espanhola, Ana Sainz com quem tem 3 filhos, o Gonçalo a Anita e o Afonso.

Mas a vida profissional de António Sá não se limita a Lisboa e Madrid. Já andou por esse mundo fora, desde o Brasil à Argentina.

20131220_almuerzo_alejo_vidal-6“Comecei a minha carreira como lhe disse numa a multinacional americana em Lisboa onde trabalhei quase 10 anos. Em 1996 entrei na Repsol, estive algum tempo em Madrid e depois voltei a Lisboa. Em 2000 fui para o Brasil onde vivi 4 anos fantásticos quer a nível profissional quer pessoal. Em 2004 fui com a minha família para a Argentina e estivemos em Buenos Aires até 2007. Foi uma experiência igualmente muito boa e rica em todos os aspetos”.

Em 2007 regressa a Espanha onde se mantém até hoje com responsabilidades em vários países, incluindo Portugal.
Apesar de estar a viver em Madrid, António Sá viaja frequentemente a Portugal, pelo menos uma vez por semana vai a Lisboa por motivos profissionais. Mas é nas férias, no Natal e na Páscoa que aproveita para estar mais perto dos amigos e da família. Faz questão de vir a Venade e fá-lo porque tanto ele como a família gostam muito de vir a Caminha.

“Venho obrigatoriamente 3 vezes por ano a Caminha e a Venade e gosto muito de o fazer. Tenho aqui a minha mãe, a minha família e muito amigos. E venho porque também quero que os meus filhos, que nenhum nasceu aqui, o Gonçalo nasceu em Madrid, a Ana no Brasil e o Afonso na Argentina, conheçam esta terra e aprendam desde pequenos que existem aqui muitas coisas boas. Eu acho que tenho esse dever e tento que eles gostem disto, se envolvam, ganhem vínculos e laços com esta terra e com as pessoas daqui. Eles gostam muito de vir e a mãe também. A Ana adora e é uma das grandes promotoras de tudo isto. Eu acho que se ela tivesse nascido em Caminha se calhar não gostava tanto de vir para cá”.

Apesar de estar a viver e a trabalhar noutro país, António Calçada de Sá não se vê como um emigrante.
“De maneira nenhuma… Eu acho que essa definição do “emigrante” está um bocadinho démodé. Emigrante, naquele sentido estranho da palavra, só se sente quem quer porque hoje em dia vivemos num espaço comunitário muito aberto, onde a integração é muito mais fácil. Repare que há 40 ou 50 anos atrás as coisas eram muito diferentes. As pessoas iam daqui para França, para a Alemanha ou para outro país sem saber falar a língua, em condições duríssimas, pessoas que levavam uma mala com pouca roupa e muitos sonhos, para essas pessoas eu tenho o maior respeito”.

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António Calçada de Sá sente-se um privilegiado por poder estar a trabalhar numa multinacional que lhe permitiu conhecer novos mundos e relacionar-se com inúmeras instituições portuguesas espalhadas pelo mundo.

“Eu costumo dizer que em Espanha quero ser um bom ministro de Portugal e em Portugal quero ser um bom ministro de Espanha”.

Mas que imagem tem este português do país que o viu nascer? Recusa uma resposta política mas avança com duas ou três ideias.

“Eu penso sinceramente que a nossa situação económica, política e social, não é tão diferente de países que passaram por esta crise nos últimos anos. Estamos a falar de uma crise nunca vista praticamente desde o crash de 29 ou desde a segunda guerra mundial e isto aconteceu um pouco por toda a Europa e pelo mundo. Acho que temos que ter um pouco de paciência e darmos um voto de confiança aquilo que está a ser feito, sendo que se calhar existe um modelo social que tem que mudar um pouco. Hoje em dia as exigências que temos por estarmos no espaço comunitário são muito grandes, a disciplina orçamental terá que deixar de ser uma quimera e terá que se conseguir. Assim sendo eu penso que tem que haver compromisso mas também sentido de estado, paciência e confiança. Eu acredito que a recuperação económica está aí ainda que de forma incipiente. A recuperação vai ser lenta e vamos ter que ter confiança porque esta crise não se resolve em dois ou três anos, se calhar vai demorar mais um bocadinho”.

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Relativamente ao número de jovens que diariamente partem para outros países por opção ou por falta dela, António de Sá traça duas leituras distintas.

“Eu acho que partem pessoas por necessidade, por vocação e porque existem oportunidades noutros sítios. Julgo que isto pode ter duas leituras, até um pouco radicais: as pessoas partem por falta de oportunidades e isso é algo que tem e deve ser seriamente analisado, mas também há pessoas que partem porque têm condições para o fazer e querem fazê-lo. Isso não acontece só em Portugal, em Espanha acontece o mesmo e neste momento existe muito talento espanhol que se está a desenvolver noutros países e noutras economias do mundo. Isto não tem que ser visto como algo de negativo. Se estamos num espaço comunitário e numa economia globalizada, se calhar o mercado de trabalho é a Europa ou até mesmo o mundo. Isso deve ser visto como uma oportunidade, não é mau porque existem coisas extraordinárias que podemos aprender se tivermos a flexibilidade suficiente para nos integrarmos noutros países, noutras culturas e formas de estar”.

600_110215 ccile acs3_tcm21-618621Regressar um dia mais tarde a Portugal não é algo garantido mas também não é uma hipótese definitivamente afastada na vida de António Sá.

“O que eu realmente gostava era de poder ter a possibilidade e a flexibilidade de mais tarde poder estar onde me apetecer. Tenho 3 filhos pequenos que pretendo apoiar e acompanhar ao máximo em tudo aquilo que eu puder. Um dia mais tarde quando eles tiverem a vida deles organizada, tanto posso estar aqui como noutro local, o importante é ter essa flexibilidade. Mas nada está pré-concebido e por isso uma resposta exata para a sua pergunta não tenho. Certamente que um dia estarei mais dias aqui do que aqueles que estou hoje mas falta muito tempo para isso”.

De férias em Caminha até 23 de Agosto, António Sá define-as como “muito intensas”.
“Quando venho para o Minho normalmente faço a minha agenda. A minha vida esteve sempre muito hipotecada a uma agenda e nem nas férias deixo de ser prisioneiro dela. Então quando venho trago tudo muito programado: se vou cá estar 22 dias eu pretendo fazer desporto durante esses 22 dias, venho com os meus livros pré-selecionados para poder ler, procuro descansar para recuperar forças, estou com a família, com os amigos, e ando por aí a passear. Costumo dizer que quando estou aqui de férias o que não me sobra é tempo…”.

A paixão pela terra onde nasceu leva-o muitas vezes a aconselhar “este cantinho do mundo” aos amigos, e fá-lo sem hesitar.

“Sem qualquer dúvida. Não há nenhum verão que eu esteja cá que não convide pessoas de Espanha, amigos, colegas da empresa ou até colaboradores a virem visitar Caminha e passar aqui alguns dias. Eu gosto que as pessoas venham, que conheçam as nossas praias e até a nossa água fria, que saboreiem o que é passear em Caminha e olhar para o rio Minho. Nós temos coisas muito bonitas às quais, na maioria das vezes, não damos o devido valor”.

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Terminamos a conversa com António Calçada de Sá a falar da mãe, uma grande referência para este gestor.

“A minha mãe é uma pessoa extraordinária que tem sido e é muito importante na minha vida. É uma pessoa que me acompanha todos os dias com o seu amor e com as suas rezas. É uma mulher de grande coragem, um exemplo de seriedade e de saber estar na vida”.

Filho único, António Calçada de Sá diz que deve quase tudo à sua mãe e, quando em determinadas alturas é preciso tomar decisões, dá consigo a pensar no que faria a sua mãe numa situação semelhante.

“Muitas vezes não está tudo escrito naqueles livros que a gente lê em inglês dos maiores gurus mundiais em economia, gestão e finanças. Às vezes para grandes problemas querem-se respostas muito simples e às vezes a pergunta que eu me faço a mim mesmo é a seguinte: nesta situação, o que faria a minha mãe? Que conselho é que ela me daria. E eu ao longo da minha vida não me recordo de muitos conselhos que a minha mãe me tenha dado que não tenham sido bons. É uma pessoa que faz muita falta na nossa vida, é uma grande mãe, uma excelente avó e por isso tenho-a permanentemente nas minhas orações”.

De vez em quando a mãe visita-os “mas ela é daqui, está plantada aqui e por isso é preciso ter cuidado para não arrancarmos as flores do jardim”.

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