João Augusto Gomes Ramos, advogado, tem 33 anos, é natural de Vila Praia de Âncora e considera-se “um dos jovens que teve de sair de Caminha” para fazer vida, porque na sua opinião o concelho está parado nos anos 80/90. O primeiro representante do Chega na Assembleia Municipal de Caminha, eleito no passado dia 12 de Outubro, reside maioritariamente em Vila Praia de Âncora, exercendo a sua profissão em teletrabalho, um dos motivos que o levou a entrar “nesta aventura”.
Em entrevista exclusiva ao Jornal C – O Caminhense, João Ramos destaca que o seu partido conseguiu eleger um deputado na primeira participação nas eleições autárquicas, apesar de ter formado a lista apenas dois meses antes. Para o eleito, a necessidade de transparência e uma auditoria às contas municipais para combater o clima de suspeição existente é fundamental. João Ramos quer ainda alterar o regimento atual da Assembleia Municipal (AM) de Caminha, que na sua opinião dificulta a participação dos cidadãos naquele órgão, modernizando os processos, como a inscrição online. Defende a retransmissão das assembleias para aumentar a proximidade com a população e aponta problemas urgentes no município, como a má promoção turística, o “contrato vergonhoso” feito com a ADAM para a gestão da água, além da necessidade de revisão do PDM. Propõe o desenvolvimento económico diversificado, com foco não só no turismo, mas também na criação de um polo industrial para gerar emprego e fixar jovens, que atualmente, como ele, migram devido à falta de oportunidades e baixos salários. Ressalta a importância de uma política de proximidade com os cidadãos, utilizando redes sociais e fóruns para ouvir demandas locais. Sobre alianças políticas, relata uma tentativa frustrada de entendimento com o PSD, que rompeu o acordo, levando o Chega a votar em branco na votação da mesa da Assembleia. Afirma que o partido manterá sua independência, apoiando propostas que beneficiem o município, mas sem abrir mão das suas linhas vermelhas, especialmente em relação à transparência e combate à corrupção. João Ramos compromete-se a lutar pela modernização, transparência e honestidade na gestão pública, transformando Caminha num município do século XXI.

João Ramos confessou que nunca pensou entrar na política. Aos 18 anos determinou que entraria só depois dos 30 e quando já tivesse alguma experiência profissional. Posto isto, surgiu um convite de um amigo seu, Vítor Mendes, que concorria a vereador na Câmara Municipal pelo Chega, partido com o qual tem vindo também a identificar-se.
O resultado do Chega nas legislativas “dava para sonhar” com mais votos, mas o deputado considera relevante o facto de ter sido eleito logo na primeira participação do seu partido nas eleições autárquicas em Caminha, apesar de ter formado a lista apenas dois meses antes.
Contudo, o resultado ficou aquém dos objetivos. O Chega Caminha esperava conseguir pelo menos mil votos, elegendo um vereador e dois deputados na AM.
Para João Ramos, Caminha tem muitos problemas e um deles é o clima de suspeição que se vive no concelho, por isso acredita que uma auditoria às contas do município era fundamental. Mudar o regimento da AM para facilitar a participação dos munícipes naquele órgão é uma das prioridades do deputado, que deu o exemplo da inscrição online, na sua opinião “arcaica”.
Apesar de ter sido atualizado no anterior mandato para um documento que o Partido Socialista considerou “uma obra prima”, o regimento não teve, para João Ramos, grandes modificações, nem promoveu uma política de proximidade. Para o eleito, aproximar as pessoas da política local é fulcral e para isso o Chega Caminha vai apostar em novas redes e canais sociais, como por exemplo o Discord, com fóruns para que os caminhenses, sejam do Chega ou não, participem.
“A Assembleia Municipal é demasiado importante para estar escondida num link no fundo de uma notícia no site do município”. João Ramos não entende porque é que a Câmara não publicava o link para a AM nas redes sociais do município, no início da transmissão, para que mais gente pudesse assistir.

Em relação à mais recente “política” praticada em Caminha de não disponibilizar a sessão da AM no Youtube depois do direto, João Ramos não concorda e defende que o vídeo deveria ficar disponível, tal como no canal nacional do Parlamento.
Um dos problemas de Caminha é, para o eleito, a falta de promoção turística, principalmente na internet, cujo site (visitcaminha), comparado com, por exemplo, Beja, está desatualizado, cheio de erros de inglês, placeholders, fotos pixelizadas, etc..


“Temos um concelho fantástico para explorar em termos turísticos e está a ser muito mal aproveitado. (…) A forma como convencemos o consumidor é fundamental nos dias de hoje e nós não conseguimos vender o nosso produto porque não fazemos quase publicidade nenhuma”, disse.
Outro dos problemas de Caminha, segundo João Ramos, é o aproveitamento dos espaços públicos, que na sua opinião não é feito devidamente, como por exemplo no caso do Pavilhão Municipal Fernando Lima, que “podia acolher Final Fours de Andebol e Futsal ou outros eventos desportivos de relevância, coisa que não está a acontecer. E não é uma questão de dinheiro, é uma questão de trabalho”, afirmou.
O facto de a praia de Vila Praia de Âncora não ter bandeira azul todos os anos, a falta de limpeza dos terrenos camarários e do estado ou o atual PDM que tem de ser revisto são outras das situações que João Ramos quer ver resolvidas.
Mas para o deputado o problema fundamental é a questão da “Águas do Alto Minho” (ADAM) e a entrega da gestão da água àquela empresa, um contrato que considera “vergonhoso”. João Ramos referiu ainda uma AM em que o PSD se absteve na votação do Protocolo de Cooperação Financeira entre a Câmara Municipal de Caminha e a ADAM, o que lhe deixou dúvidas em relação aos “verdadeiros intentos daquele partido” nesta matéria.

Todos estes problemas que o deputado elencou são essenciais e devem, na sua opinião, ser resolvidos com urgência, mas há mais propostas concretas para melhorar a vida dos caminhenses. Desde logo a defesa da ponte entre Caminha e A Guarda, que João Ramos não tem dúvidas de que iria dinamizar o comércio, a restauração e a vida noturna do concelho. O eleito revelou ainda que o Chega Caminha irá ter um representante em cada freguesia para, através da redes sociais, aproximar as pessoas da vida política e ajudar na resolução dos problemas existentes.
Sobre a polémica na tomada de posse do passado dia 4 de Novembro, em que a lista para presidir aquele órgão apresentada pela Coligação O Concelho em Primeiro (OCP) venceu por causa de um voto em branco de algum membro do Partido Socialista, João Ramos é muito claro: “eu votei em branco e houve um entendimento entre a OCP e alguém do PS (…) e o entendimento que havia com o Chega foi rasgado antes da tomada de posse”, atirou. Por isso, o deputado acha muito difícil haver acordos com outros partidos numa primeira fase porque “o que aconteceu com o PSD deixou a porta mais fechada do que aberta”.
“Foi passada uma linha vermelha”, afirma João Ramos. O Chega pretendia um entendimento por escrito para garantir “uma guinada à direita”, sem pedir “nada do outro mundo” em troca, como por exemplo, o que o eleito ouviu falar de que o Chega pretendia a presidência da mesa. “Nem isso tinha sido pedido”, garante.
Mas para o deputado, se o PSD fizer a auditoria que prometeu, “a porta abre-se mais um bocadinho”. Até lá irão respeitar os seus eleitores, “que queriam uma política totalmente diferente da que existia e não mais do mesmo”, afirmou.

Onde o Chega Caminha pretende marcar a diferença em relação aos outros partidos, é no que João Ramos apelida de “informatização do concelho”, ou seja, a revolução das redes sociais do município. Uma outra revisão do PDM, diferente da sugerida pelo PSD e uma auditoria à obra do mercado municipal de Caminha são outros pontos onde podem divergir significativamente das outras forças políticas do concelho.
Para além da aposta no turismo, uma vez que Caminha tem “potencialidades gigantescas” em relação a outros concelhos, o deputado acredita que é preciso haver mais habitação social paralelamente à criação de uma zona industrial “como deve ser, porque o que temos atualmente na Gelfa não pode ser considerado um polo empresarial, mas sim uma rua empresarial com meia dúzia de fábricas, que são importantes, sem dúvida, mas temos de crescer”, disse.
Para fixar os jovens, João Ramos acredita que é preciso criar condições para que eles possam trabalhar cá e ganhar bem, “porque nenhum jovem quer ganhar 800 e poucos euros por mês para toda a vida”.
Perante os eleitores que o elegeram, o compromisso de João Ramos é claro: ser “a verdadeira cara da mudança” e ser fiel àquilo que definiram desde o primeiro dia, “transparência, rigor e defesa das medidas imediatas para os munícipes – a revisão do PDM, a questão da ADAM e a Proteção Civil.
Daqui a quatro anos, o deputado do Chega não tem a certeza se o concelho vai estar totalmente diferente, até porque não está nas suas mãos, mas espera que reconheçam que houve alguém que defendeu realmente a mudança para o concelho.
Os três eixos da sua missão são a luta pela transparência, tornar Caminha do Século XXI, e a honestidade total. Se um dia o seu partido chegar ao executivo, João Ramos só fará parte de um projeto que seja totalmente transparente com os seus cidadãos e com os outros partidos. “Não podemos achar que isto é a nossa coutada. Não gosto disso porque sou um republicano convicto”, rematou.
João Ramos, deputado eleito pelo Chega para a Assembleia Municipal de Caminha, em entrevista ao Jornal C – O Caminhense.



