Não amo os meus filhos mais que os outros Pais. Não é sequer sentimento avaliável ou comparável, claro, tão diferentes são os padrões de avaliação do amor ou do “querer o melhor” para eles, padrões esses geralmente tão confundidos.
Não os protejo acima do que devo, exceto na minha área, se eu próprio puder ser melhor que outros.
Concordo em absoluto com o provérbio africano que diz “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” e também com um outro que diz“Deus quando criou o homem branco deu-lhe um relógio e quando criou o homem negro deu-lhe o tempo”. Digo aos meus filhos, que se assim foi, concluo que Deus ama muito mais este, do que aquele. A tradução é LIBERDADE.
Mas o que de mais significativo lhes digo vem expresso no título deste artigo.
AMAT VICTORIA CURAM traduz-se em “a vitória ama a preparação”, podendo significar de outro modo que “as vitórias e as derrotas são anteriores a si próprias”, e isso não tem interpretações subjetivas, excetuando a liberdade de o fazerem, ou não. Os resultados são sempre inerentes.
O serem competentes e íntegros deriva da sua própria responsabilidade, e não raras vezes apelo a isso mesmo, mais do que à preparação exclusivamente. Modelar o comportamento dos filhos não é errado; os bebés não conhecem regras e assim cresceriam se não lhas mostrássemos. Errado é enviesar comportamentos e cercear a liberdade em nome das regras, confundindo ambas.
Nesse sentido, a comunicação tem de ser eficaz, assentar em diálogo honesto, podendo até, por vezes, ultrapassar alguns decibéis. O importante é que exista. A indiferença é pior que o falar alto e o desconhecimento tudo agrava. O silêncio é dramático, principalmente se bilateral.
Alguém escreveu “eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens”, mas parece que educar agora, custa mais que castigar depois. Ver pais em despique para ver quem mais agrada aos filhos é atualmente, frequente, mesmo sabendo que o apoio em questão poderá, por vezes, nem ser o mais adequado.
Está cientificamente provado que os filhos, mais tarde, tendem a cobrar o facilitismo, ao invés da educação e, que muitas vezes a coexistência de ambos é incompatível.
Não devemos ter receio de desagradar, se sabemos a razão do nosso lado ou a ausência dela nos nossos filhos. Há realidades que apenas com o tempo são compreendidas. Os conflitos geracionais e da adolescência (hormonais), por exemplo, são absolutamente fisiológicos e existirão sempre. Nesses casos, teremos de ser nós a ser compreensivos, ouvir mais do que falar, saber ceder mais do que impor, analisar mais do que julgar.
Tudo é teoricamente possível, na prática é que falhamos. Como diz um outro provérbio, “antes de casar, queria ter um filho e tinha cinco teorias para o educar; casei, e agora tenho cinco filhos e nenhuma teoria”. O equilíbrio entre amor e disciplina nunca foi fácil na educação dos filhos, mas há momentos em que não nos é possível falhar no primeiro. Momentos esses, por exemplo, em que mais e mais jovens saem de casa para estudar longe, ou quando casam e assumem vida e responsabilidade conjunta, ou quando assumem a escolha de uma profissão por convicção e vocação.
É, porventura, nesses momentos que o nosso legado se faz valer pelo conteúdo dos verdadeiros apoio e amor, e não pelas palavras sem substância e muitas vezes de circunstância. Porque também é nesses momentos que mais precisam de nós. Sem que tal represente fazer por eles o caminho que só a eles pertence, sob pena de os vermos transformados em comodistas, passo primeiro para muito do egoísmo que hoje constatamos. Junto com o nosso apoio, tem de vir sempre o exemplo e a história que tivermos para lhes entregar.
Há alguns anos, escrevi num trabalho para um concurso na área da música que “ …Mozart nunca seria o Amadeus Mozart se não tivesse existido um Leopoldo Mozart”. Venci esse concurso e estou certo de que a frase ajudou. Ainda não mudei de opinião e defendo, sem ser musicólogo ou educador, que este pode ser um bom exemplo do critério de exigência para todas as profissões com responsabilidade social, educativa e governativa, e que tanto falta em Portugal. Parte dessa ausência de exigência está no desconhecimento do significado e prática do Amat Victoria Curam. Para que os nossos filhos voem felizes no país que os viu nascer. Orgulhosamente.
Arnaldo Rego
Médico Neonatologista




