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AMAT VICTORIA CURAM – Para quando os filhos voam

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Foto bailarina pés arnaldo rego

Não amo os meus filhos mais que os outros Pais. Não é sequer sentimento avaliável ou comparável, claro, tão diferentes são os padrões de avaliação do amor ou do querer o melhor para eles, padrões esses geralmente tão confundidos.

Não os protejo acima do que devo, exceto na minha área, se eu próprio puder ser melhor que outros.

Concordo em absoluto com o provérbio africano que diz “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criançae também com um outro que diz“Deus quando criou o homem branco deu-lhe um relógio e quando criou o homem negro deu-lhe o tempo”. Digo aos meus filhos, que se assim foi, concluo que Deus ama muito mais este, do que aquele. A tradução é LIBERDADE.

Mas o que de mais significativo lhes digo vem expresso no título deste artigo.

AMAT VICTORIA CURAM traduz-se em “a vitória ama a preparação”, podendo significar de outro modo que “as vitórias e as derrotas são anteriores a si próprias”, e isso não tem interpretações subjetivas, excetuando a liberdade de o fazerem, ou não. Os resultados são sempre inerentes.

O serem competentes e íntegros deriva da sua própria responsabilidade, e não raras vezes apelo a isso mesmo, mais do que à preparação exclusivamente. Modelar o comportamento dos filhos não é errado; os bebés não conhecem regras e assim cresceriam se não lhas mostrássemos. Errado é enviesar comportamentos e cercear a liberdade em nome das regras, confundindo ambas.

Nesse sentido, a comunicação tem de ser eficaz, assentar em diálogo honesto, podendo até, por vezes, ultrapassar alguns decibéis. O importante é que exista. A indiferença é pior que o falar alto e o desconhecimento tudo agrava. O silêncio é dramático, principalmente se bilateral.

Alguém escreveu “eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens”, mas parece que educar agora, custa mais que castigar depois. Ver pais em despique para ver quem mais agrada aos filhos é atualmente, frequente, mesmo sabendo que o apoio em questão poderá, por vezes, nem ser o mais adequado.

Está cientificamente provado que os filhos, mais tarde, tendem a cobrar o facilitismo, ao invés da educação e, que muitas vezes a coexistência de ambos é incompatível.

Não devemos ter receio de desagradar, se sabemos a razão do nosso lado ou a ausência dela nos nossos filhos. Há realidades que apenas com o tempo são compreendidas. Os conflitos geracionais e da adolescência (hormonais), por exemplo, são absolutamente fisiológicos e existirão sempre. Nesses casos, teremos de ser nós a ser compreensivos, ouvir mais do que falar, saber ceder mais do que impor, analisar mais do que julgar.

Tudo é teoricamente possível, na prática é que falhamos. Como diz um outro provérbio, “antes de casar, queria ter um filho e tinha cinco teorias para o educar; casei, e agora tenho cinco filhos e nenhuma teoria”. O equilíbrio entre amor e disciplina nunca foi fácil na educação dos filhos, mas há momentos em que não nos é possível falhar no primeiro. Momentos esses, por exemplo, em que mais e mais jovens saem de casa para estudar longe, ou quando casam e assumem vida e responsabilidade conjunta, ou quando assumem a escolha de uma profissão por convicção e vocação.

É, porventura, nesses momentos que o nosso legado se faz valer pelo conteúdo dos verdadeiros apoio e amor, e não pelas palavras sem substância e muitas vezes de circunstância. Porque também é nesses momentos que mais precisam de nós. Sem que tal represente fazer por eles o caminho que só a eles pertence, sob pena de os vermos transformados em comodistas, passo primeiro para muito do egoísmo que hoje constatamos. Junto com o nosso apoio, tem de vir sempre o exemplo e a história que tivermos para lhes entregar.

Há alguns anos, escrevi num trabalho para um concurso na área da música que “ …Mozart nunca seria o Amadeus Mozart se não tivesse existido um Leopoldo Mozart”. Venci esse concurso e estou certo de que a frase ajudou. Ainda não mudei de opinião e defendo, sem ser musicólogo ou educador, que este pode ser um bom exemplo do critério de exigência para todas as profissões com responsabilidade social, educativa e governativa, e que tanto falta em Portugal. Parte dessa ausência de exigência está no desconhecimento do significado e prática do Amat Victoria Curam. Para que os nossos filhos voem felizes no país que os viu nascer. Orgulhosamente.

Arnaldo Rego
Médico Neonatologista

Arnaldo Botao Rego
Arnaldo Botao Rego
Neonatologista

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