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Os Dunning-Kruger à nossa volta!

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Dunning kruger
Fonte: oscarenfotos.com el-efecto-kruger-dunning-en-fotografia

No ano de 2000, o Ig Nobel da Psicologia foi atribuído aos americanos David Dunning e Justin Kruger das Universidades de Cornell e Illinois, respetivamente, por terem apresentado um estudo-relatório sobre a dificuldade dos incompetentes em reconhecerem as suas próprias incompetências.

O IgNobel é, desde 1991, uma iniciativa divertida da revista americana Annals of Improbable Research, cujo lema é levar as pessoas “primeiro a rir e depois a refletir”, sendo a cerimónia anual de atribuição de prémios realizada na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

No caso do referido Ig Nobel da Psicologia, os autores constataram que existe um desvio de comportamento em certas pessoas, agora conhecido como “efeito Dunning-Kruger”, que sistematicamente e por pouco conhecimento, sobreavaliam as suas próprias capacidades e, pela mesma razão, não têm capacidade de perceber e avaliar as virtudes e competências dos que os rodeiam.

Cometem assim vários erros, dos quais verdadeiramente não se apercebem, por incompetência, o que se pode resumir a “serem ignorantes da sua própria ignorância”!

O resultado e respetiva conclusão apontam para a existência de pessoas que, não raras vezes, chegam a lugares de responsabilidade, pensando que sabem mais do que realmente sabem sobre os lugares que ocupam, estando por isso impreparados para tais funções.

As consequências de existirem cargos de responsabilidade assim ocupados, seja em que áreas for – política, social, técnica, desportiva, etc. – podem ser ainda, de acordo com o mesmo estudo: (1) a incapacidade de perceber e avaliar as próprias falhas; (2) decisões erradas e dificuldade em aceitar críticas; (3) erros na conceção de projetos e na gestão de equipas de recursos humanos e respetivas consequências negativas, para os próprios e para os que o rodeiam, social ou profissionalmente.

Acresce a tudo isto, como já referido, a absoluta incapacidade em reconhecer o valor dos mais competentes.

Para agravar o contexto, estas pessoas estão verdadeiramente convictas de que estão certas e que sabem mais do que os demais e ao invés de os ouvirem, confundem autoridade com autoritarismo, impondo as suas ideias e vontades, sem verdadeiramente se importarem com a verdade e a realidade. Têm tanto de ignorância, como de audácia.

A voz popular resume este efeito, à frase: “A ignorância é uma coisa muito atrevida” e como alguém escreveu, “estes prémios Nobel parecem a brincar, mas são para levar a sério” e este estudo é um dos seus expoentes.

Este viés psicológico do comportamente é hoje, mais do que nunca, veiculado pelas redes sociais, onde, muitas vezes, a coberto do anonimato, se observam os maiores dislates nas mais diferentes áreas do dito conhecimento.

É comum observar a facilidade com que esta ignorância autoconfiante e bem-falante é muitas vezes elevada a posições de poder, exibindo absoluta incapacidade de avaliação dos seus colaboradores mais competentes.

O estudo refere ainda, que pelo contrário, os mais competentes e estudiosos são frequentemente “assaltados” por dúvidas, que derivam exatamente do alargar do seu muito saber.

Conta-se que quando já com setenta e alguns anos, perguntaram ao grande violoncelista russo Rostropovich, por muitos considerado o melhor do mundo, porque é que ainda praticava 3 a 4 horas por dia, ele terá respondido – “porque finalmente começo a verificar progressos”.

Esta reflexão e estudo estará sempre fora do alcance de tantas figuras públicas que nos rodeiam na vida pessoal, profissional, política, no país e no mundo, continuando a faltar um critério de exigência que as avalie e selecione e não um desvio que as promova por proximidade política, conhecimento familiar ou amizade pessoal.

Amplificamos as vozes com potentes sistemas de som e simultaneamente empobrecemos o conteúdo substantivo da palavra e respetivo saber.

Dizem disparates, mas fazem-no com convicção e são escolhidos.

Afinal, ignorantes bem-falantes de Dunning-Kruger.

Arnaldo Botao Rego
Arnaldo Botao Rego
Neonatologista

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