O Governo decidiu proibir a realização de festivais de música até 30 de setembro, informa o comunicado do conselho de ministros que teve lugar esta quinta-feira.
“Neste contexto, impõe-se a proibição de realização de festivais de música, até 30 de setembro de 2020, e a adoção de um regime de caráter excecional dirigido aos festivais de música que não se possam realizar no lugar, dia ou hora agendados, em virtude da pandemia”, explica a nota.
“Para o caso de espetáculos cuja data de realização tenha lugar entre o período de 28 de fevereiro de 2020 e 30 de setembro de 2020, e que não sejam realizados por facto imputável ao surto da pandemia da doença Covid-19, prevê-se a emissão de um vale de igual valor ao preço do bilhete de ingresso pago, garantindo-se os direitos dos consumidores”, refere ainda o comunicado do conselho de ministros.
Recorde-se que no final do mês de abril, o primeiro-ministro recebeu em São Bento os empresários de festivais de música Álvaro Covões (da empresa “Everything is New”), Roberta Medina (“Better World” – Rock in Rio), Luís Montez (“Música no Coração”), João Carvalho e Filipe Lopes (“Ritmos”), e Jorge Lopes (MEO Marés, Pavilhão Rosa Mota).
João Carvalho, organizador do Festival de Paredes de Coura usou a sua página no facebook para exprimir o seu sentimento em relação a este cancelamento.
“Este é o texto que eu não queria ter de escrever, e que provavelmente poucos quereriam ler. Quando as circunstâncias nos levaram a pensar que podíamos não fazer a edição deste ano, fomos invadidos por uma tristeza sem fim. Afinal são 27 anos interruptos de uma alegria que contagiou milhares de pessoas, onde se viram concertos memoráveis, onde se deram inúmeros abraços, onde se celebram reencontros, e se fizeram relações para a vida. Estes momentos fizeram deste um dos festivais mais acarinhados pelo público. São quase três décadas de um festival que nos pertence tanto, que dou por mim a preencher grande parte das minhas memórias com episódios associados ao Paredes de Coura. O festival que sempre transbordou amor e cumplicidade. Por isso lhe chamam o festival do amor. Mas desta vez partilhar amor, é estarmos quietos, é adiarmos a 28.º edição para o próximo ano. Escrevo isto com lágrimas nos olhos e não posso deixar de pensar em todos aqueles que tal como nós, queríamos mais do nunca celebrar a amizade.
Vivemos tempos estranhos. Em muito pouco tempo, o mundo como o conhecíamos mudou por completo. As prioridades e objectivos foram reformulados; a vida social está pausa; a indústria da música foi colocada em perspectiva. E os dias quentes de verão com amigos, os abraços, as gargalhadas, a música que nos enche a alma, tudo isto está repleto de pontos de interrogação.
Não posso deixar de pensar nas centenas de pessoas que ajudam a erguer este festival, e que hoje passam dificuldades por falta de trabalho. Não posso deixar de pensar no comércio Courense para quem o sucesso financeiro do ano dependia muito do festival.
Voltaremos mais fortes que nunca, assim que seja seguro para todos. Voltaremos, e o habitat natural da música estará lá para nos receber. Teremos sempre Coura e Coura sempre nos terá.
A saudade já aperta, até já.”