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Sexta-feira, 29 Março, 2024
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Peixe Seco do Rio Minho – Uma tradição que Seixas quer recuperar

 

 

A tradição de secar o peixe é de origem pouco conhecida, mas sabe-se que esta seria a melhor forma de conservar o pescado para os dias de escassez.
Em Portugal esta é uma tradição transversal a todo o território. Seca-se peixe de Norte a Sul do país e as espécies utilizadas são as mais variadas. Carapau, batuques, sardinha, cação, polvo, são alguns exemplos dependendo da zona em questão. O peixe pode ser seco ao sol, uma tradição mais a Sul, ou no fumeiro, uma tradição mais usada no norte. A secagem do peixe obedece a vários processos: primeiro é “amanhado”, processo de tirar as tripas do peixe, depois é lavado e passado por uma salmoura feita com água e sal grosso. Por fim é aberto ou escalado e é posto a secar.

Cada espécie tem uma forma diferente de secagem. Como referimos atrás, a seca do peixe é comum a todo o território desde que existam comunidade piscatórias. Com o rio Minho e o Atlântico a rodeá-lo, o concelho de Caminha é também uma referência no que toca à secagem do peixe. O exemplo mais vivo é a solha seca, uma tradição ainda bem viva na freguesia de Lanhelas. Os mais velhos ainda se lembram que chegaram a enviar para o Brasil solha seca.

Mas a tradição não se fica por aqui. Na vizinha freguesia de Seixas esta prática também era muito comum. Com o tempo a tradição foi ficando um pouco esquecida mas, graças a um grupo de pescadores locais, parece querer renascer. A Tainha, o Mujo de Pinta Amarela e também a solha, embora esta última em menor quantidade, são as espécies utilizadas neste processo.

Ilídio Pita, que divide a pesca com a profissão de torneiro mecânico, é um dos grandes entusiastas em reavivar esta tradição. A viver durante a infância e parte da juventude em França, lembra-se bem de vir de férias e ver a avó a secar o peixe. Aliás esta era uma prática muito comum das gentes da freguesia e em quase todas as casas havia um fumeiro.

“Desde pequeno que me lembro de ver a minha avó e outras pessoas aqui em Seixas a secar o peixe. Na altura eu vivia com os meus pais em França e quando vínhamos de férias era umas das iguarias que os meus pais gostavam de comer e levavam para França. Era uma tradição muito frequente em Seixas”, recorda.

Mas com o passar dos tempos a tradição foi-se perdendo e hoje são poucas as pessoas que ainda se dedicam a esta técnica.

“De facto já não há muita gente a fazer isto, aliás que eu saiba, em Seixas, para vender, há duas pessoas a fazê-lo. Pode haver mais gente mas é para consumo próprio”, explica.

Ilídio Pita aponta o amigo António Cacais, já falecido, como o grande responsável pelo renascer desta tradição que estava um pouco esquecida.

“Foi o António Cacais, mais conhecido por “Peribaldo”, que começou a interessar-se por reativar a tradição do peixe seco. Infelizmente desapareceu de forma prematura e nós decidimos continuar porque consideramos que não se deve deixar esquecer esta tradição”.

Amada por uns e desprezada por outros, a tainha e o mujo de pinta amarela, são espécies que abundam no rio Minho durante os meses de Verão.

“A tainha e o mujo são espécies que podem ser pescadas a partir de 1 de junho e até ao 15 de dezembro. A rede que podemos utilizar é uma rede de um pano e a partir de meados de agosto e até ao final de setembro, vamos poder utilizar uma rede de três panos. A solha é pescada com a denominada rede de picadeiro, que é também uma rede de um pano. A rede de três panos, a chamada solheira, está suspensa devido à escassez da espécie.”

Ao contrário da solha, o mujo e a tainha são espécies que ainda abundam no rio Minho, no entanto Ilídio Pita alerta para o facto de já ter havido mais.

“Não podemos dizer que sejam espécies em perigo, no entanto acho que já foi mais abundante. Há anos em que há mais, outros em que há menos, mas não posso dizer que não haja. Às vezes é preciso ter alguma sorte e conhecimentos. Dentro daquilo que é a minha disponibilidade porque esta não é a minha profissão principal, até tenho pescado bastante peixe”, confessa.

A técnica da secagem dá muito trabalho, garante Ilídio Pita que explica que para se conseguirem 30 Kg de peixe seco, são precisos 100 kg de peixe fresco. O procedimento tem os seus segredos que o pescador não revela a 100 por cento, deixando no entanto algumas dicas.

“Depois de pescado o peixe é colocado em caixas e é levado para uma espécie de sala de operações, como eu lhe chamo. Aí o peixe é amanhado ou seja, é escamado e estripado e depois é escalado. Normalmente são precisas duas pessoas para amanhar o peixe. Dividimos as tarefa e depois de arranjado e escalado, o peixe é colocado em sal moura durante um período de tempo. Depois de salgado o peixe é unido dois a dois, é atado para formar as cambadas e é posto ao fumo durante um período de tempo”, explica.

Preparar o fumeiro também tem a sua técnicas. Ilídio Pita explica que a escolha da lenha é muito importante pois ela vai influenciar no gosto final do peixe.

“Preparar um fumeiro também tem os seus segredos. Normalmente utilizamos lenha e serrim de pinho, lenha de carvalho, folhas de loureiro para dar um pouco de aroma e para fazer fumos usamos também a rama de pinheiro. Depois de estar um certo tempo do fumeiro o peixe é retirado e é guardado num local sem humidade até ser consumido”.

Na hora de o confecionar é importante ter em conta que o peixe tem ficar de milho durante algumas horas. Ilídio Pita aconselha entre 6 a 8 horas em água que deve ser mudada com alguma frequência.

“Por experiência própria e depois de algumas experiências julgo que o tempo ideal será entre 6 a 8 horas de molho, dependendo do gosto de cada pessoa”.

Depois de demolhado o peixe está pronto para ser confecionado e existem várias formas de o fazer, nomeadamente grelhado, frito, ou cozido.

“Quer seja grelhado, frito ou cozido, o peixe deve ser regado com azeite e alho e acompanhado com uma salada e uma boa batata cozida”.

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