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Quinta-feira, 28 Março, 2024
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Pedro Guardão – O tatuador que um dia pensou ser arquitecto

Ouça aqui a versão audio emitida na Rádio Caminha:

Folhas brancas, alguns lápis de cor e uma vontade quase compulsiva de desenhar. É assim desde que se conhece e lá em casa todos diziam que o miúdo tinha jeito para as artes.

Pedro Guardão nasceu em Moledo e desde pequenino que a sua paixão sempre foi o desenho, um talento que herdou da mãe que também gostava de pintar, uma influência que acabaria por ser determinante na sua vida. “Tive a sorte de ter em casa pessoas que gostavam muito de arte como era o caso da minha mãe que sempre pintou algumas coisas e isso ajudou-me a crescer nessa área”.

Começou a desenhar muito novo e o tempo livre era passado em frente às folhas brancas a fazer os seus bonecos ou a esculpir. “Foi algo que cresceu comigo e hoje, olhando para trás, reconheço que já de pequeno tinha algum jeito. As pessoas diziam-me que eu tinha talento e que deveria seguir algo ligado às artes, e assim foi…”.

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Na escola, quando teve que fazer escolhas, o Pedro não teve dúvidas relativamente à área a seguir. “No secundário segui artes e mais tarde interessei-me bastante pelo desenho técnico e de projeto. Fui estudar para uma escola profissional onde tirei o curso de desenhador projetista”.

Terminado o curso e depois de ter estagiado em alguns gabinetes como desenhador, Pedro Guardão decide enveredar pelo curso de arquitetura, curso que não chegou a concluir. “Achei que seria um processo natural seguir esse caminho porque estava muito englobado nessa área”, explica. A mesmo tempo que tirava arquitetura, Pedro foi-se interessando por uma outra área, as tatuagens. Mais uma vez a influência dos pais pesou… “Os meus pais gostavam muito de tatuagens e eu habituei-me muito cedo a lidar com isso. Lá em casa tínhamos muitas revistas e a determinada altura dou por mim a fazer desenhos para tatuagens”.
À medidas que o tempo passa a “paixão” pelo mundo das tatuagens aumenta, enquanto que o interesse pela arquitetura se vai desvanecendo. Para lhe aguçar ainda mais o apetite, o pai oferece-lhe na altura um kit de tatuagens. “Isso aconteceu há uns nove ou dez anos, andava eu em arquitetura. Com o tempo fui percebendo que o que gostava mesmo de fazer eram as tatuagens e um dia tive que optar por uma ou outra coisa, ganharam as tatuagens”.

Pedro Guardão explica que foi uma escolha involuntária, “não foi algo muito pensado, foi mesmo um coisa quase espiritual. Eu percebi que gostava muito mais de desenho artístico do que desenho técnico”.

Abandonada de vez a arquitetura, o jovem de Moledo decide enveredar pela carreira de tatuador, uma profissão algo invulgar mas que adora. Aos longo dos últimos quase 10 anos já fez muitas tatuagens, na sabe quantas, mas tem a certeza que foram muitas.
“Sinceramente não consigo precisar um número exato mas tenho noção de que foram muitas. Quando comecei a afluência era menor e só fazia uma ou outra tatuagem de tempos a tempos. Hoje em dia as coisas mudaram e já faço isto a tempo inteiro”.
Com uma agenda muita preenchida, o tempo de espera médio para fazer uma tatuagem na “Till the Grave” e de quase dois meses.
“É verdade que tenho uma agenda bastante preenchida, não me posso queixar do interesse que as pessoas têm no meu trabalho e na minha arte”, revela.

E se há alguns anos atrás as tatuagens eram vistas com relutância por parte da sociedade, a verdade é que as coisas mudaram. “Nos últimos anos deram-se passos muito importantes nesse sentido e as tatuagens deixaram de ser vistas como algo reprovável. A tatuagem passou de tabu, a conversa frequente de café ou ate mesmo a uma moda. Hoje em dia é frequente irmos na rua e vermos pessoas tatuadas. É algo normal e transversal quer em termos de idades quer de extratos sociais”.

Pedro Guardão considera muito importante esta espécie de evolução de mentalidades em relação às tatuagens. “As pessoas deixaram de ver as tatuagens como algo negativo e passou a ser visto como algo artístico que no fundos expressa um pouco de nós, daquilo que somos”.

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A primeira tatuagem que fez foi a si próprio e, mais do que uma tatuagem, Pedro diz que foi “uma brincadeira com agulhas”. “Comecei como muita gente fazia há alguns anos atrás com agulhas e de uma forma muito rudimentar. Fiz uma tatuagem muito pequenina para experimentar qual seria a sensação de ser tatuado e acabei por ser eu a minha própria cobaia”.

Ao longo dos últimos nove anos Pedro foi colecionando histórias e aprendendo que aquilo que para uns pode ser estranho, para outros pode ser a coisa mais natural do mundo. “Temos que apreender a lidar com as diferenças de gosto e com as escolhas bizarras que por vezes nos aparecem. Há coisas que para nós podem não fazer sentido nenhum e para os outros pode ser a melhor obra do mundo. Aprendi ao longo destes anos de trabalho a ver as coisas assim e a perceber que a tatuagem é algo de pessoal que cada um faz porque o seu interior lhe indica que deve ser assim, e não porque e feio ou bonito. Esta deve ser, na minha opinião, a filosofia da tatuagem”, explica.

Para quem está a pensar fazer uma tatuagem Pedro Guardão deixa um conselho: “não o façam por impulso e reflitam muito bem naquilo que vão fazer. Uma tatuagem verdadeira fica e depois é complicado tirá-la”.

O Pedro tem uma filha e no dia em que ela lhe disser que quer fazer uma tatuagem terá todo o seu apoio. “Não poderia ser de outra forma porque comigo aconteceu exatamente a mesma coisa. Eu habituei-me a ver o meu pai tatuado e se tive esse feedback positivo da parte dele quando eu decidi fazer uma tatuagem não poderia ser diferente com a minha filha. Se ela um dia mais tarde gostar de tatuagens serei o primeiro a dar o meu apoio desde que o faça na altura certa e com a maturidade necessária”.

A tatuagem não escolhe idade mas Pedro aconselha a que se faça só a partir da maior idade, “quando as pessoas atingem uma certa maturidade que obviamente varia de pessoa para pessoa. Há pessoas que são maduras mais cedo, outras mais tarde e ha aquelas que nunca o chegam a ser. Mas é importante que as pessoas na hora de tatuar saibam bem aquilo que realmente querem”.

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O desconhecimento que ainda existe em relação a esta arte faz com que ainda se criem alguns mitos, tabus e receios em relação às tatuagens, mas Pedro desmistifica. “Antigamente as coisas eram feitas de uma forma mais rudimentar e podiam surgir algumas complicações, hoje em dia as coisas já não são assim. Houve uma evolução muito grande ao nível dos materiais e também da técnica que faz com que a tatuagem seja basicamente uma coisa inócua para o corpo humano. As tintas têm boa qualidade e são inofensivas”, garante.

Tatuagens, Pearcing’s e outros acessórios, o importante segundo Pedro Guardão é que as pessoas se habituem a respeitar e aceitar as diferenças dos outros “e não seja necessário as pessoas fazerem tatuagens em sítios escondidos só porque determinadas profissões não o permitem. As pessoas não deixam de ser quem são, ou não são bons ou maus profissionais, só porque têm uma tatuagem ou um pearcing. É esse passo que ainda nos falta dar mas que eu acredito que no futuro consigamos lá chegar”. Longe vão os tempos em que eram os indigentes e os rudes a envergar tatuagens. Hoje são os famosos que as escolhem e exibem como se de troféus se tratassem. E por vezes, quantas mais melhor…

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