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Pedagogia Waldorf: um incentivo à criatividade e ao pensamento livre

 

É um dos maiores movimentos educacionais e foi criado em 1919 em Estugarda, na Alemanha. Baseada na filosofia da educação do filósofo austríaco Rudolf Steiner, a Pedagogia Waldorf é uma abordagem pedagógica que procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. O objetivo é desenvolver indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis, tendo em conta as diferentes características de cada individuo.

A pedagogia Waldorf incentiva e encoraja a criatividade, nutre a imaginação e conduz os alunos a um pensamento livre e autónomo. Atualmente existem em todo o mundo mais de 1000 Escolas Waldorf e cerca de 2000 jardins de infância, localizados em mais de 60 países.

A Pedagogia Waldorf chegou a Portugal na primeira metade da década de 80, mais precisamente em 1984 e neste momento existem já alguns jardins de infância com esta pedagogia. São escolas privadas na sua maioria mas existe em Santo Tirso, uma que vai do pré-escolar ao 3º ciclo, que é pública.

Nestes estabelecimentos de ensino não existem os manuais convencionais, em alguns os alunos escolhem o que querem estudar e quando querem ser avaliados.
Aprender a conhecer-se e a ser feliz são os princípios basilares deste movimento educacional que tem vindo a granjear simpatia em Portugal.

Recentemente, numa reunião de Câmara, foi dado a conhecer pelos seus promotores, um projeto semelhante que tem como objetivo implementar no concelho de Caminha, mais concretamente na antiga escola primária de Gondar, cujo edifício se encontra devoluto, um jardim de infância assente na pedagogia Waldorf.

Empreende +

Em entrevista ao Empreende +, Pedro Leal e Estefânia Sá deram a conhecer um pouco mais do seu projeto que já está bastante amadurecido e aguarda apenas luz verde por parte da Câmara para se poder instalar. O objetivo é que em 2017 o Jardim de Infância possa abrir portas.
O sonho de criar um projeto desta natureza surgiu há sensivelmente 10 anos, numa altura em que Estefânia Sá fez uma pesquisa sobre formas pedagógicas de ensinar as crianças.

“Esta ideia surgiu há cerca de uns dez anos quando eu me deparei com algumas leituras que estava a efetuar sobre diferentes formas pedagógicas de ensinar as crianças. Conhecia o modelo nacional mas a verdade é que fiquei muito entusiasmada quando comecei a ver aquilo que era a pedagogia waldorf.”

Estefânia Sá ficou de tal forma interessada e entusiasmada com as leituras que decidiu posteriormente fazer um curso especifico sobre esta matéria.

“Fui fazer um curso a Inglaterra sobre pedagogia waldorf para tentar perceber as diferenças e a forma como as crianças se davam com esta tipologia educativa. Isto foi em 2010 e desde aí não parei e continuei a dar e a fazer workshops sobre esta temática. Quando parei para pensar e refletir sobre aquilo que queria um para os meus filhos, surgiu a ideia de criar uma escola com a pedagogia waldorf”.

Formada em educação física, Estefânia Sá tem um mestrado na área da depressão e saúde mental e um doutoramento em psicologia sobre felicidade humana e como desenvolver essa felicidade nas crianças.

“O meu doutoramento já foi na área do bem estar e da felicidade, o que vai de encontro a esta perspetiva pedagógica”, explica.

Difundida pelo mundo inteiro, a pedagogia waldorf assenta numa filosofia.

“A grande substância desta pedagogia é que ela assenta numa filosofia, a antroposofia, que é a base da Pedagogia Waldorf. Segundo esta filosofia a perspetiva de desenvolvimento do potencial humano é ilimitada naquilo que é o seu potencial e capacidade”.

Mas então quais são então as grandes diferenças entre aquilo que é um jardim de infância dito convencional e um jardim de infância waldorf?

“Trata-se de uma pedagogia muito centrada no desenvolvimento artístico do ser humano como forma de aprendizagem e reflete na máxima de que não há aprendizagem que não seja auto aprendizagem. Isto coloca os alunos no aspeto central do desenvolvimento daquilo que são os seus potenciais. Como? Através do ensino das artes como por exemplo a música, a pintura, ou das manualidades. Desta forma consegue-se aceder à cognição da criança de dentro para fora e não imposta de fora para dentro”.
Assim sendo explica Estefânia Sá, “todas as tarefas são muito suaves e acima de tudo centradas na natureza. O homem, com ser natural, envolvido num contexto natural promove um desenvolvimento harmonioso de tudo aquilo que são as suas capacidades. Esta é a perspetiva da waldorf”.

 

waldorf 2

 

Os espaços físicos desta escolas são sobretudo naturais e requerem muito tempo das crianças em brincadeiras ao ar livre.
A pedagogia waldorf está a ter uma grande expansão a nível mundial e é considerada como a pedagogia que mais promove o desenvolvimento do ser humano.

“Isto mesmo foi referido pela presidente da UNESCO”.

Em Portugal existem 4 jardins de infância waldorf homologados.

“Um está sedeado no Algarve, outra pertence à ARPA – Associação Recriar para Aprender e está sedeado em Alhandra e depois existem mais dois, o de São Jorge e o de Alfragide. Estes são reconhecidos internacionalmente como espaços educativos de pedagogia waldorf. No norte existem duas iniciativas bastante recentes, a Casa do Sol em Matosinhos e os Mimos de Girassol em Braga”.

Com a existência de apenas dois jardins de infância a Norte, Estefânia Sá considera que faz todo o sentido a criação deste projeto mais a norte.

“Aquilo que nós pensamos é que de facto o Norte está um pouco carente de ofertas complementares e por isso faz todo o sentido criar aqui um projeto desta natureza que pode albergar crianças não só do Alto Minho mas até das localidades galegas aqui perto. Nós julgamos que é uma oferta importante”.

Criar um projeto desta natureza exige algum planeamento e o primeiro grande desafio foi encontrar um espaço físico de acordo com aquilo que é a pedagogia waldorf.

“Teria que ser necessariamente um espaço rural, virado para a comunidade e como toda a envolvência da natureza, e não uma escola apenas e só centrada numa mera estrutura física de betão. Fizemos algumas pesquisas, andámos à volta de algumas estruturas que estão desativadas e chegamos ao contacto com o presidente da Junta da União de Freguesias de Gondar e Orbacém, o senhor José Cunha, que se mostrou disponível a abraçar este projeto.
O presidente da Junta achou a ideia muito interessante e uma mais valia para a comunidade e para a freguesia que está a ficar cada vez mais envelhecida e mais despovoada. Assim sendo o autarca abraçou este projeto e disponibilizou-se, dentro daquilo que são as suas competências enquanto presidente da Junta, para levar este projeto por diante”.

O edifício onde funcionou a escola primária está devoluto mas depois de obras de adaptação será o local perfeito para albergar o projeto visto estar inserido num espaço rural com bastante serenidade.
O projeto já foi, como referimos, apresentado publicamente em reunião de Câmara, e neste momento os promotores aguardam que lhes seja dada uma resposta pela autarquia para posteriormente poderem assinar um protocolo de cedência.

“Assumindo que o protocolo vai mesmo para a frente, em setembro queremos apresentar o projeto à comunidade e depois, mensalmente, iremos desenvolver uma série de iniciativas como por exemplo palestras para dar a conhecer a Pedagogia wWldorf, o que ela tem de diferente e o que pode trazer de bom às crianças nas várias etapas da sua vida”, explica.

Depois da infraestrutura legalizada, o próximo passo será, explica a responsável pelo projeto, “fazer o pedido de reconhecimento da escola ao Ministério da Educação, o que deverá acontecer até 28 de fevereiro de 2017”.

Estefânia Sá dá conte de um processo burocrático que é necessário fazer para que em 2017 se possa iniciar uma primeira turma de jardim de infância dentro da Pedagogia Waldorf em Gondar.

“Digamos que este primeiro ano tem como objetivo por um lado esclarecer os pais e dar-lhes a conhecer o que é esta pedagogia e o que ela traz de novo, ultrapassar questões burocráticas e desenvolver algumas obras de adaptação no edifício”, avança Pedro Leal.

Tal como as restantes escolas Waldorf também esta implica o pagamento de uma propina por parte dos pais e encarregados de educação que, dependendo da formalização feita com o Ministério da Educação, poderá ter comparticipações.

Se tudo correr como está programado, em setembro poderão surgir algumas novidades a cerca deste projeto que aguarda luz verde da Câmara de Caminha para que possa avançar. E se na pior das hipóteses o protocolo entre os promotores do projeto e Câmara não se vier a concretizar, existe um Plano B que será aplicado em último caso. Assim sendo, de uma ou de outra forma, “este será sempre um projeto para avançar”, garantem os promotores.

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