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Sexta-feira, 19 Abril, 2024
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Em Novembro, Guimarães volta a ser capital do Jazz

De 08 a 18 de Novembro, Guimarães com epicentro no Centro Cultural Vila Flor, recebe mais uma edição do seu festival de jazz. Este ano, o mundo celebra os 100 anos decorridos desde a gravação do primeiro registo discográfico de jazz, um momento simbólico que mudaria para sempre a história desta música. É precisamente esta efeméride que orienta o conceito programático da 26ª edição do Guimarães Jazz.

Um dos traços distintivos do Guimarães Jazz é o facto de este ser um festival com um conceito: um conceito primacial e transversal a todas as edições que todos os anos se ramifica em sub-conceitos e ideias de programação subjacentes ao alinhamento em causa. Na sua edição transata, o festival cumpriu vinte e cinco anos de um percurso de reconhecida coerência e vitalidade artística e, nessa ocasião, a organização enfatizou a importância de um festival questionar permanentemente a sua própria história, partindo da ideia segundo a qual pensar a História é, em certo sentido, uma das estratégias possíveis de fazer História.

Em 2017, a matriz programática do festival passa pela sinalização dos 100 anos decorridos desde a gravação do primeiro registo discográfico de um género musical, até aí quase absolutamente desconhecido e ainda impreciso terminologicamente, a que se convencionou chamar “jazz”. Apesar da irrelevância do acontecimento em termos estritamente musicais, a gravação da Original Dixieland Jass Band corresponde, numa dimensão simbólica, à fundação de uma linguagem musical autónoma. A partir desse momento, a história do jazz mudaria para sempre, até porque a documentação em registo sonoro teve importantes implicações no desenvolvimento de uma música intrinsecamente volátil e que foi sempre, desde a sua génese, baseado na improvisação e na execução em tempo real.

Assinalar esta efeméride corresponde, portanto, a questionar e problematizar a noção de património, tanto a um nível narrativo como musical, sugerindo assim uma nova organização da história. É a partir desta ideia de programação que se entretecem as relações entre os diferentes projetos presentes no alinhamento e é também ela que justifica, em parte, a transversalidade de gerações e idiomas musicais presentes nesta edição.

Inserido num contexto marcado pela multidisciplinaridade, politemporalidade e polissemia dos fenómenos musicais, o Guimarães Jazz propõe-se captar uma visão panorâmica do passado para, assim, operar uma transformação cultural, o que implica olhar com a mesma atenção para os diferentes estratos temporais que sedimentam a contemporaneidade e identificar neles os sinais que apontam para o futuro, ainda desconhecido, desta música. Cartografar a memória é radiografar o presente.

Eclético, aberto e transversal, o Guimarães Jazz pretende afirmar-se como polo difusor de uma reflexão alargada sobre o futuro do jazz e, em sentido mais lato, das práticas musicais e artísticas do século XXI. No entanto, pretendemos sobretudo que nem esse desígnio discursivo, nem o conceito que lhe subjaz, nos distraiam da nossa missão fundamental de divulgação do jazz, através de projetos nos quais, além da pertinência dos seus pressupostos artísticos (um critério fundamental de programação), seja também ponderada a importância de dar a conhecer ao público músicos de grande qualidade, mesmo quando não são eles os líderes das formações.

O concerto inaugural da edição de 2017 do Guimarães Jazz será protagonizado pelo extraordinário guitarrista Nels Cline (08 novembro), que apresentará o seu muito celebrado projeto “Lovers” acompanhado da Orquestra de Guimarães. Os cem anos da primeira edição discográfica de jazz são celebrados explicitamente no segundo momento do festival, que apresentará o espetáculo “Jazz – The Story” (09 novembro), desenvolvido pela All Star Orchestra, um ensemble de músicos notáveis onde pontificam, entre outros, os saxofonistas Vincent Herring e James Carter e o contrabaixista Kenny Davis. Seguem-se dois momentos fortes da edição de 2017, reveladores da amplitude geracional e estilística presente neste alinhamento: o vanguardista e histórico baterista do free jazz Andrew Cyrille (10 novembro), que interpretará o álbum “The Declaration of Musical Independence”, considerado um dos grandes discos de jazz de 2016, e a banda Mostly Other People Do The Killing (11 novembro) – um dos mais relevantes e desafiantes projetos de jazz do segundo milénio, o qual se apresentará em septeto pela primeira vez em Portugal.

A segunda semana será preenchida pelo regresso a Guimarães do incontornável Jan Garbarek a 16 de novembro (num concerto que contará com a presença do percussionista indiano Trilok Gurtu), pela atuação da baterista norte-americana Allison Miller (acompanhada por músicos de grande qualidade, como Myra Melford, Ben Goldberg e Kirk Knuffke, entre outros) a 17 de novembro e, finalmente, pela apresentação do espetáculo “Real Enemies”, liderado pelo idiossincrático Darcy James Argue (18 novembro) e executado pela sua big band Secret Society (também uma estreia em solo nacional), um projeto musical inovador com uma dimensão de reflexão política sobre o mundo de vigilância e paranoia digital em que vivemos hoje.

A edição de 2017 do Guimarães Jazz incluirá também, para além do programa principal de grandes concertos, duas atuações no Pequeno Auditório do CCVF – a banda VEIN, que contará com a colaboração do reputado saxofonista Rick Margitza (11 novembro), e o quarteto de Jeff Lederer e Joe Fiedler, acompanhado pela vocalista Mary LaRose (18 novembro), grupo que será responsável pelas tradicionais jam sessions e oficinas de jazz, bem como pela direção da Big Band e do Ensemble de Cordas da ESMAE. Por fim, o projeto de parceria entre o Guimarães Jazz e a Porta-Jazz (12 novembro) volta a conhecer um novo capítulo, desta vez incidindo numa relação de cruzamento disciplinar entre música e teatro, que contará com a colaboração do dramaturgo Jorge Louraço Figueira, da atriz Catarina Lacerda e dos músicos Nuno Trocado, Tom Ward, Sérgio Tavares e Acácio Salero.

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