10.3 C
Caminha Municipality
Quinta-feira, 28 Março, 2024
spot_img
InícioRubricasEmpreende +Hotel Meira – 80 anos ao serviço da hotelaria no concelho

Hotel Meira – 80 anos ao serviço da hotelaria no concelho

 

 

Começou por se chamar Pensão Âncora e mais tarde Pensão Meira. Hoje é conhecido por Hotel Meira e é uma das unidades hoteleiras mais antigas do país em atividade e a mais antiga do distrito.

A história deste hotel, que comemora 80 anos no próximo mês de junho, remonta ao ano de 1935. Nasceu pela mão de Simão Pinto Meira e Felisbela Garcia Gomes Brito, casados e ambos nascidos em Vila Praia de Âncora.
O negócio, que nunca saiu da família, está hoje nas mão de Jorge Meira o filho do casal que, ainda jovem, decidiu abandonar o curso de economia que frequentava no Porto e regressar a Vila Praia de Âncora para ajudar a mãe, que entretanto tinha ficado viúva.

Mas voltemos ao princípio. Simão Meira era empregado de comércio e casou com Felisbela Brito, filha de Abel do Nascimento Brito e Delfina Garcia, proprietários da Pensão Âncora (pensão, mercearia e café), situada precisamente no local onde hoje existe o Hotel Meira.
Com a morte da Delfina Garcia, a “alma” da pensão, Abel de Brito, também conhecido por “Abel da Chocalha”, decide encerrar o negócio.
Entretanto Simão e Felisbela tinham-se estabelecido com uma modesta pensão a que deram o nome de Pensão Meira, uma casa particular com meia dúzia de quartos.
Felisbela aprendeu com a mãe os segredos da cozinha tornando-se numa cozinheira de mão cheia. A fama dos seus cozinhados e a forma como acolhiam os clientes, rapidamente se espalhou fazendo da Pensão Meira uma cada de referência em todo o Alto Minho.
Era tal o prestigio que o casal Simão e Felisbela se viram obrigados a alargar o negócio, arrendando outros espaços para assim conseguirem mais quartos para alugar aos clientes.

hotelmeira-pensao

Velha Pensão Âncora dá origem à Pensão Meira

Alguns anos mais tarde Abel Brito resolve fazer partilhas e conversando com os herdeiros, chegam a acordo para que Simão e Felisbela ficassem com o velho casarão onde em tempos tinha funcionado a pensão Âncora, encerrada após a morte de Delfina Garcia.
Com uma visão rara para a época e para a zona, o casal iniciou um processo de requalificação ampliação e adaptação do “velho casarão”. Para o efeito contraíram um empréstimo no valor de 80 contos – o equivalente hoje a 400 euros- a um comerciante abastado de riba de Âncora.
As obras, possíveis graças ao espirito empreendedor do casal, transformaram a velha Pensão Âncora num hotel bastante moderno para a época. Só para se ter uma ideia, todos os quartos tinham água quente e fria, e alguns tinham inclusive banho privativo completo. A criação de espaços sociais deu ao empreendimento uma característica de estabelecimento hoteleiro que, para a época, foi considerado uma referência quer pelos clientes, quer pela imprensa especializada, com destaque para as criticas positivas dos jornalistas de turismo, Daniel Constantino do 1º de Janeiro, Severino Costa do Comércio do Porto, Maurício Teixeira do Jornal de Notícias, entre outros.

hotelmeira-quartoantigo

A remodelação foi inaugurada a 4 de junho de 1944 e, como recorda Jorge Meira, “à cerimónia assistiu muito boa gente, entre elas um grande amigo de Simão Meira, antigo companheiro de escola e filho da tia Claudina, o José Pinto, industrial de sapataria em Lisboa que também tinha investido na terra, dando emprego a muita gente”.
José Pinto foi fundador da Casa Belmar, de um ring de patinagem, aluguer de bicicletas e um Bar no Teatro Velho.
Infelizmente não teve sorte, denunciando no discurso que proferiu todos aqueles que o atraiçoaram e roubaram. “Nunca esquecerei estes momentos de verdade, sinceridade e amizade que marcaram mais tarde a minha vida profissional: rigor, verdade, seriedade e bons colaboradores.”

Com o passar do tempo a casa foi ganhando fama, responsabilidade, experiência, e muitas amizades.
Simão e Felisbela Meira tornaram-se no exemplo vivo do turismo familiar que era na altura o modelo nacional.
O negócio corria bem e a Pensão Meira era de facto uma referência a nível nacional não só para os que apreciavam a boa cozinha, mas também para aqueles que, principalmente no verão, procuravam aquela unidade hoteleira para gozar as suas férias.
Mas em 1962 a tragédia abata-se sobre a família Meira. Simão morre com apenas 54 anos, deixando Felisbela sozinha com o negócio na mão. Na altura comentava-se em Vila Praia de Âncora que a pensão ia acabar pois não se viam continuadores.
O filho mais velho, que como já referimos estava a estudar economia no Porto, decide contra tudo e contra todos, abandonar o curso e regressar a Vila Praia de Âncora para ajudar a mãe a tocar o negócio para a frente.
De volta a casa Jorge Meira agarra nas rédeas da casa, arranca a mãe da profunda depressão em que se encontrava após a morte do marido e juntos, iniciam uma nova etapa na vida do estabelecimento.

hotelmeira-Sr. Jorge

De Pensão a Hotel

Ao fim de 10 anos de consolidação e fama da Pensão Meira, a dupla mãe e filho resolvem arrancar com um projeto de reclassificação e ampliação submetido à Direção Geral de Turismo, projeto que acabaria por ser aprovado.
Assim, em 1974, a Pensão Meira reabre reclassificada já como Hotel de 2 estrelas.
E assim permaneceu nos 20 anos seguintes. Duas décadas que Jorge Meira considera de “luta e amor à hotelaria, honrando o nome dos fundadores”.
O mercado britânico, então na moda, foi um dos principais clientes do Hotel Meira durante esse período.
A vontade expressa de D. Felisbela se reformar e o desinteresse por parte dos irmãos mais novos pelo negócio, levou a que Jorge Meira comprasse a sociedade à mãe e desse as tornas aos irmãos.
Realizado o negócio o único proprietário da altura deu sociedade aos dois filhos e arrancou com novo projeto de ampliação, reclassificação e modernização do Hotel que passa de 2 para 3 estrelas em 1995.
D. Felisbela, entretanto reformada, ainda tem tempo de testemunhar mais esta etapa do negócio que herdou do pai e que durante anos dirigiu, primeiro ao lado do marido e depois acompanhada pelo filho mais velho. Falece em 2006 com a bonita idade de 93 anos.
Quanto ao Hotel Meira, continuou a renovar-se e a modernizar-se. Com a entrada em vigor em 2009 da nova lei hoteleira que contempla, finalmente, mais os serviços do que os aspetos físicos, atinge os requisitos necessários para uma reclassificação superior – 4 estrelas.

hotelmeira-quartoprestige

“Em 2010 renovamos todo o aspeto interior do hotel e renovámos 20 quartos”.
Neste momento e com os olhos posto no Quadro Comunitário de Apoio 2020, o Hotel Meira está a preparar uma candidatura com vista à melhoria das instalações. A criação de um SPA é um dos objetivos a levar por diante.
“Queremos continuar a renovação que iniciamos em 2010 e que ainda não acabamos. O objetivo é remodelarmos os quartos que ainda nos faltam, cobrir a piscina com uma cobertura bonita que se enquadre com a estética do hotel e fazer um pequeno SPA com qualidade. Neste momento estamos à espera que saia a regulamentação do Portugal 2020 para podermos concorrer ao programa, mas a verdade é que já estamos em março e ainda não há nada”.

Com 52 quartos o Hotel Meira continua a ser, passados 80 anos, uma unidade hoteleira de referencia a norte.
Simpatia, vontade de bem servir e profissionalismo é o que caracteriza a equipa do Hotel Meira. “Somos uma família e essa é uma das nossas mais valias. O nosso serviço é de primeira categoria, incluindo o do restaurante onde apostamos na inovação sem esquecer a tradição dos paladares que nos trouxeram até hoje”.

hotelmeira-Sr. Jorge e Emanuel

Um legado de família

E se no passado Jorge Meira foi o garante da continuidade do negócio da família, o futuro também já está garantido com o envolvimento dos netos.
Emanuel Meira Rego seguiu as pisadas do avó e decidiu estudar economia. Teve mais sorte, conseguiu terminar o curso e agora está disponível para continuar o projeto que a família fez crescer nos últimos 80 anos.
Um legado com oito décadas de sucesso não é uma herança fácil e o jovem sabe que tem uma grande responsabilidade pela frente. Apesar de ter terminado o curso há pouco tempo Emanuel sente-se preparado para, com a ajuda do avô, continuar este projeto.
“Estou preparado e sei que com a ajuda do meu avô e do restante pessoal vamos conseguir fazer ainda mais e melhor. O meu avô é um grande exemplo não só para mim como para todo o concelho e portanto trabalhar com ele é muito bom”.
Emanuel cresceu, tal como o primo que é médico e também é sócio, à volta do Hotel Meira. Conhece bem os cantos à casa e o turismo é algo que o seduz.
“Eu sempre gostei muito de restauração e hotelaria e por isso quando o meu avô me lançou o desafio não hesitei. Acho que é uma das área com um grande potencial em Portugal”.
Apesar das potencialidades Emanuel reconhece os obstáculos e dificuldades que vai ter que enfrentar no futuro, mas isso não o assusta.
“Eu acho que o nosso problema é que por vezes estamos agarrados a politiquices que em nada contribuem para o desenvolvimento da região. Acho que isso tem que ser ultrapassado, principalmente a mentalidade das pessoas que tem que evoluir um pouco mais”.
Tal como o avô a palavra “estagnação” não existe no dicionário de Emanuel e por isso o jovem vai acompanhar a passo e passo as obras que de futuro irão ser feitas para tornar o Hotel Meira num espaço ainda mais bonito e com melhor qualidade.
“O meu avô sempre foi um homem com uma grande visão, uma visão que transformou este hotel naquilo que ele é hoje. Naquilo que me toca pretendo seguir o mesmo caminho porque cada vez mais é necessário ter um produto diferenciado”, explica.
O interesse que os netos depositam no negócio da família constitui um grande incentivo para que Jorge Meira continue a trabalhar neste projeto que ajudou a crescer.
“Isso é muito gratificante e dá-me ainda mais vontade de trabalhar. Estou confiante porque sei que tenho uma grande equipa aqui no hotel. Isso é uma realidade que eu tenho que salientar. Somos mais ou menos 20 pessoas a trabalhar, temos uma excelente diretora, muito dedicada e competente e por isso acho que o futuro do Hotel Meira está assegurado e isso deixa-me satisfeito”.
Combater a sazonalidade é o grande desafio desta unidade hoteleira que, para atrair clientela em época baixa, está a desenvolver uma série de iniciativas como por exemplo os jantares temáticos no restaurante do hotel.
“Isto no inverno é muito complicado porque se chove nós não temos alternativas para oferecer aos nossos clientes. Não temos um museu, não temos passeios organizados, não temos nada… Como é que se consegue aguentar uma casa destas durante o inverno? Olhe, com programas, com ideias, almoços buffet e jantares com música ao vivo e buffet especial. Enfim estamos a lançar este ano esta iniciativa, vamos ver se resulta, esperamos que sim”.

Promover o Alto Minho em conjunto é o caminho a seguir, defende Jorge Meira que apela à união dos seus colegas hoteleiros.
“Se os colegas hoteleiros um dia se quiserem juntar a sério, acredito que podemos fazer alguma coisa em termos promocionais. Podemos fazer workshops, programas para trazer cá jornalistas, operadores estrangeiros e nacionais para que conheçam o nosso produto e aquilo que temos para oferecer aos turistas. Mas tem que ser um trabalho conjunto. Repare que as companhias Lowcost transportam milhares de pessoas pela Europa. O Porto e Lisboa têm evoluído imenso à custa disso e a verdade é que nós não estamos a tirar qualquer proveito disso, essas pessoas não chegam cá acima. Era importante que a zona do Minho tivesse um movimento no aeroporto do Porto que conseguisse catapultar alguns clientes para a nossa zona. Era fundamental que houvesse no aeroporto um Transfer que os trouxesse para esta zona. Nós não precisamos de ir ao estrangeiro buscar clientes, precisamos de os ir buscar ao aeroporto. Se isso for bem trabalhado de certeza que conseguimos trazer alguns para cá. O que não podemos é estar preocupados só com o nosso quintal e esse foi sempre o grande mal da hotelaria aqui na nossa zona. Nunca se conseguiu trabalhar em conjunto e infelizmente na maioria das vezes as pessoas estão mais preocupadas em andar a espiar o que os outros fazem. Isso é o pior que pode acontecer e infelizmente neste ramo acontece vezes demais. Só para ter uma ideia, a última reunião que fizemos foi há 4 anos no Hotel Porta do Sol em Caminha. O assunto em discussão era a possibilidade de se criar um transfer do Porto para aqui. Nem nós nem a nossa associação soubemos trabalhar isso e o resultado está à vista. A empresa que na altura consultamos para nos dar preços para esse tranfer avançou ela com a ideia e hoje esse transfer existe para Viana e Ponte de Lima e nós ficamos a ver navios. Demos a ideia e perdemos a oportunidade. Somos muito espertos e vai ser preciso ficarmos todos de rastos para alguém se lembrar que é preciso fazer alguma coisa”.

hotelmeira-exterior-fachada

No ano em que comemora 80 anos, o Hotel Meira oferece aos seus clientes modernismo, bom serviço e ofertas espetaculares a preço de aniversário.

- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img

Mais Populares