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De Lloyd a Rathbun, dez dias intensivos de jazz em Guimarães

De 7 a 16 de novembro, o Guimarães Jazz volta a contagiar e atrair os amantes do jazz à cidade berço com Charles Lloyd, Eric Harland, Antonio Sánchez, Vijay Iyer, Craig Taborn, Joe Lovano, Lina Nyberg, Rudy Royston e Andrew Rathbun entre as várias dezenas de músicos que, ao longo destes 10 dias, trazem a sua música aos palcos do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), numa edição do festival que mais uma vez se faz sentir um pouco por toda a cidade, nomeadamente no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e no Convívio Associação Cultural. Os 13 concertos que estruturam e consolidam esta edição preparam-se para trazer a Guimarães artistas de várias origens e diferentes gerações e estilos que marcam o jazz do presente, e que não deixam para trás toda a sua genialidade e virtuosismo, decididos a embalar-nos por algo inestimável como o poder da música, e todo o potencial que esta encerra para inspirar e revigorar a vida de cada um de nós. O programa completo, os bilhetes para os concertos e as assinaturas do festival encontram-se disponíveis em www.guimaraesjazz.pt.

A partir desta quinta-feira (7 novembro), Guimarães transforma-se para receber (e viver) a música que é de todos e em todos cabe. Falamos do jazz, em toda a sua força e amplitude, que contagia uma vez mais a cidade berço, com ampla largura de banda, ao longo de 10 dias consecutivos. A edição de 2019 do Guimarães Jazz inaugura com a atuação daquele que é um dos grandes músicos de jazz vivos, Charles Lloyd, colaborador de grandes nomes do jazz, do blues e do rock
como B.B. King, Keith Jarrett e Brad Mehldau ou Beach Boys e The Doors. Lloyd é um saxofonista superlativo e também compositor sofisticado, que, mesmo depois dos 80 anos, continua capaz de reinventar-se. Em Kindred Spirits, concerto que apresenta no CCVF, é acompanhado por uma banda de excelência composta pelo pianista Gerald Clayton, o baterista Eric Harland, o guitarrista Marvin Sewell e o contrabaixista Harish Raghavan.

O dia seguinte (8 novembro) abraça o baterista mexicano Antonio Sánchez, músico que se tornou conhecido do grande público quando compôs a banda-sonora de Birdman, do compatriota Alejandro González Iñárritu, que recebeu o Óscar de melhor filme em 2015. Mas nessa altura já levava mais duas décadas no circuito jazzístico de mais alto nível colaborando com artistas como Pat Metheny, Chick Corea ou Chris Potter. No Guimarães Jazz, Sánchez apresenta-se com o projeto Migration, um quinteto fundado em 2011 com a intenção de explorar uma estética que faz aproximações ao rock, à música eletrónica e à spoken word.

A tarde do primeiro sábado desta edição (9 novembro) apresenta o Trio Oliva/Boisseau/Rainey com o seu projeto Orbit às 17h00. Longe do fulgor criativo da cena jazz da década de 1990 e da efervescência underground dos primeiros anos do pós-milénio, a cena francesa continua a ter lugar para projetos interessantes como este trio clássico (de piano, contrabaixo e bateria), liderado pelo pianista e compositor Stéphan Oliva – ele próprio uma das figuras de relevo da nova vaga que há trinta anos injetou uma nova dinâmica de vitalidade criativa no jazz francês – e que integra Tom Rainey, importante baterista norte-americano, e o contrabaixista francês Sébastien Boisseau.
A noite traz consigo dois dos mais influentes músicos de jazz do presente, os pianistas norte-americanos Vijay Iyer e Craig Taborn, que vêm colaborando desde 2012. Apesar das suas diferenças de estilo – Iyer mais rítmico, Taborn mais centrado na melodia –, complementam-se para criar uma música simultaneamente canónica e disruptiva. O recente e muito aclamado registo discográfico Transitory Poems é mais um documento dessa relação artística e o mote para este concerto no Guimarães Jazz, às 21h30 no CCVF.

O festival continua a investir na sua vertente pedagógica e prossegue a parceria iniciada em 2012 com a ESMAE no âmbito da qual jovens músicos de jazz e música clássica têm uma experiência criativa de elevada exigência. Desta feita, a Big Band e o Ensemble de Cordas da ESMAE é dirigida por Geof Bradfield que, além da sua carreira enquanto músico – o saxofonista tenor é um dos nomes em maior destaque da cena jazzística de Chicago – é também professor na Universidade de Illinois. Um concerto inédito e irrepetível para assistir no domingo, 10 de novembro, às 17h00, em pleno palco do Grande Auditório do CCVF.
A noite de domingo leva-nos até à Black Box do CIAJG para presenciar aquele que tem sido um momento incontornável da programação do Guimarães Jazz nas últimas edições, fruto da colaboração com a associação Porta-Jazz, e que este ano permite o encontro, numa residência artística entre dois músicos importantes do jazz português – o guitarrista Miguel Moreira e o baterista Mário Costa –, o bailarino Valter Fernandes, o percussionista Rui Rodrigues e ainda o saxofonista e clarinetista suíço Lucien Dubuis, músico importante da cena avant-garde jazzística europeia, que vão explorar a relação entre o jazz e a dança. O resultado desta residência será apresentado e gravado ao vivo no Guimarães Jazz e posteriormente editado com Carimbo Porta-Jazz.

A segunda-feira (11 novembro) abre uma nova semana e o palco a uma instituição histórica entre as big
bands de jazz, a ICP Orchestra, fundada em 1967 pelo recentemente falecido pianista Misha Mengelberg
e pelo baterista Han Bennink, duas
das guras maiores da cena jazzística holandesa, e por onde passaram alguns dos músicos mais influentes do jazz europeu como o saxofonista alemão Peter Brötzmann. Han Bennink, um
dos músicos mais idiossincráticos e influentes do jazz europeu, é hoje o líder informal do coletivo e a força motriz do processo de criação.

O dia seguinte (12 novembro) é marcado por uma nova colaboração do festival. Ikizukuri é um trio de saxofone, contrabaixo e bateria, criado especificamente para o Guimarães Jazz. Formado por três músicos com abordagens muito distintas, tem uma sonoridade elétrica e pulsante. Integram o coletivo o saxofonista Julius Gabriel, compositor e improvisador alemão sedeado no Porto, Gonçalo Almeida, contrabaixista radicado em Roterdão, e o baterista e compositor Gustavo Costa. Esta é uma proposta da Sonoscopia, associação de músicos e construtores sonoros, que tem tido presença marcante na programação d’A Oficina ao longo deste ano.

No dia 13 de novembro, o palco do Grande Auditório do CCVF está preparado para o regresso de Joe Lovano ao Guimarães Jazz. Unanimemente considerado um dos grandes saxofonistas do nosso tempo, Lovano regressa ao festival onde já atuou por diversas ocasiões, desta feita com o seu Trio Tapestry, uma formação invulgar de saxofone, piano e bateria, que integra dois músicos de exceção – Marilyn Crispell e Carmen Castaldi. Trio Tapestry é também o título do álbum editado em janeiro pela editora ECM, onde se revela uma dimensão mais pessoal, intimista e sobretudo muito livre da música de Lovano, sustentada em texturas rítmicas, melódicas e harmónicas.

O dia seguinte tem como protagonistas o quinteto liderado pela compositora e vocalista Lina Nyberg e a Orquestra de Guimarães. Lina Nyberg, cujo trabalho sinfónico e orquestral
tem merecido amplo reconhecimento crítico, é a convidada desta edição do Guimarães Jazz para trabalhar com a Orquestra de Guimarães – que se tem tornado presença assídua do festival
nos últimos anos. Terrestrial, a obra
que estará no centro desta atuação, faz parte de uma trilogia com uma dimensão épica e operática, e constitui também um manifesto em defesa da natureza e da importância da luta pela preservação do planeta, na qual assume particular relevo a expressividade vocal de Nyberg e a dimensão poética das suas composições.

O último fim de semana do Guimarães Jazz 2019 abre com Rudy Royston às 21h30 de sexta-feira (15 novembro). Baterista virtuoso
tido como um dos mais prestigiados instrumentistas da geração nascida na década de 1970 nos EUA, apresenta-se no Guimarães Jazz em quinteto, com a mesma formação com que gravou
o seu último álbum, Flatbed Buggy, editado no ano passado pela Greenleaf, a editora independente fundada por Dave Douglas. Com uma instrumentação invulgar, que inclui violoncelo e acordeão, este quinteto pratica uma música de raízes, com aproximações ao blues e à americana.

O derradeiro dia desta edição é dominado pelo quinteto de Geof Bradfield, às 17h00, e pelo ensemble de Andrew Rathbun, às 21h30, em dois concertos no Centro Cultural Vila Flor. O pós-bop é a grande influência de
 Geof Bradfield, mas o músico vem trabalhando interseções da tradição e do experimentalismo, da folk, do blues e do jazz. Originário do Texas, Bradfield é um dos protagonistas da atual cena jazzística de Chicago e é visto como um dos saxofonistas tenor mais em foco do jazz contemporâneo. Sideman de músicos como Brian Blade ou Randy Weston, é também líder de formação. Yes, and… Music for Nine Improvisers, comissariado pela Chamber Music America New Jazz Works, é o seu mais recente trabalho.
O Guimarães Jazz 2019 encerrará
com o Large Ensemble do saxofonista
e compositor canadiano Andrew Rathbun, que irá interpretar as suas Atwood Suites, inspiradas na poesia da escritora Margaret Atwood. O festival fecha assim, como é hábito, com uma grande formação no maior palco do CCVF, despedindo-se com esta obra de paisagens emocionais para o século XXI – Atwood Suites – que veicula uma mensagem de inquietação política e elevação poética que, pela voz de Aubrey Johnson, narra um mundo em profunda transformação ao qual a arte tem de dar resposta.

Com pendor ‘obrigatório’ no Guimarães Jazz surgem igualmente as atividades paralelas do festival que ao longo de duas semanas oferecem várias experiências a todos quantos passam em Guimarães por esta altura. Desde as animações musicais em que o jazz surge em contextos quotidianos menos previsíveis e acessível a todos aqueles que queiram desfrutar do festival, às jam sessions no Café Concerto do CCVF e no Convívio Associação Cultural – este ano lideradas pelo saxofonista e compositor Geof Bradfield que vem acompanhado por um naipe de músicos de grande nível (o trompetista Russ Johnson, o guitarrista Scott Hesse, o contrabaixista Clark Sommers e o baterista Dana Hall) – conferindo ao Guimarães Jazz
uma das suas facetas identificadoras com uma componente de improvisação que revela o lado mais informal do jazz, permitindo que o público o possa ouvir num ambiente mais direto e próximo dos músicos, e ainda as oficinas de jazz (também estas dirigidas por Geof Bradfield e os artistas que o acompanham no Guimarães Jazz), uma experiência única de trabalho criativo com músicos de elevada qualidade técnica, envolvidos num dos contextos mais fervilhantes da criação jazzística contemporânea, orientadas pelos músicos residentes que se deslocam propositadamente dos EUA a convite do festival.

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