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Sexta-feira, 29 Março, 2024
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Circuito Turístico dá a conhecer património histórico, cultural e religioso da freguesia de Riba de Âncora

A freguesia de Riba de Âncora, paróquia de Santa Maria de Riba de Âncora está encostada ao sopé da serra de Arga, dista 4 quilómetros do oceano Atlântico.
Como se pode ler na Monografia da freguesia, da autoria de Maria Gabriela Oliveira, podemos dizer que Riba de Âncora “se ergue em local privilegiado da Natureza, rodeada de matizes de verde, dos campos férteis aos pinheiros bravios onde se escuta o tranquilo sussurrar dos riachos e se pode ouvir, às vezes, o bramir
das ondas…”.
Com uma área aproximada de 8,542 Km2 e uma densidade populacional de 78 habitantes por Km2, a freguesia de Riba de Âncora possuiu uma riqueza natural e patrimonial que vale a pena conhecer.
Nesta nossa “viagem” até à freguesia do Vale do Âncora, ficamos a conhecer locais de uma beleza rara e gente que coma sua simplicidade sabe levar mais longe o nome da freguesia.
Embarque nesta visita a Riba de Âncora.

Núcleo Museológico da Memória – Uma viagem no tempo

O circuito tem início na antiga escola primária da freguesia onde está instalado o Núcleo Museológico da Memória, que dá a conhecer as artes e ofícios de Riba de Âncora. É ali que tem início a nossa visita pela rota turística da freguesia.
A acompanhar-nos está a Tesoureira da Junta de Freguesia e o Presidente, Paulo Alvarenga, eleito em outubro de 2017 para um segundo mandato de 4 anos.
Chegados ao edifício da antiga escola primária, hoje impecavelmente recuperado, somos logo convidados a uma espécie de viajem no tempo. A primeira divisória com que nos deparamos retrata uma sala de aula do Estado Novo. Tudo parece ter parado no tempo. O crucifixo em pau, pregado na parede, torna o ambiente austero e nas velhas carteiras de madeira ainda jazem cadernos e sebentas. O tinteiro também lá está e penduradas no bengaleiro estão as sacas feitas de serapilheira onde os alunos transportavam o material escolar.
Mais à frente, na secretaria do Mestre, descansa um velho livro de atas e a palmatória de madeira que aquecia as mãos a quem não sabia a tabuada na ponta da língua ou errava no ditado. Era uma sentença a quem ninguém escapava…
Na parede da frente lá está o velho quadro de lousa negro. Já não exibe números nem letras, também ele parece ter adormecido para sempre.
Do lado oposto, o mapa de Portugal Continental ensina as províncias, os rios e as serras e por cima deste, está a fotografia do chefe de Estado, Oliveira Salazar.

A visita ao Núcleo Museológico de Memória de Riba de Âncora prossegue, agora para ficarmos a conhecer algumas das artes e ofícios mais importantes da freguesia.
A primeira sala dá a conhecer os palmitos, uma arte com mais de 100 anos de existência, seguindo-se depois a produção do leite uma tarefa que estava destinada às mulheres da freguesia e da qual tiravam o seu rendimento.

Mais à frente, numa outra área, dá-se a conhecer o Gesso Artístico e a extração e os trabalhos em granito, artes e ofícios que eram desenvolvidos pelos homens de Riba de Âncora e que deixaram a sua marca.
A arte de trabalhar a madeira também lá está perpetuada através da exposição de diversos artefactos de madeira, como é o caso dos arados e ferramentas, de um esmagador de uvas, rodas de carros de bois, torneiras de pipos, entre outros.

Um raro esquife em madeira e talha desperta a atenção dos visitantes. Não se trata de uma urna como explica o presidente da Junta, mas sim de um esquife que era utilizado para sepultar os pobres da freguesia.
“Quando morria alguém que não tinha possibilidades para pagar um funeral, o corpo era transportado até ao cemitério neste esquife. A pessoa era depois depositada na cova e o esquife regressava para ser reutilizado por quem precisasse.
Era uma forma de dar um funeral digno à pessoa”, explica Paulo Alvarenga que sublinha a raridade da peça.

Moinhos D’Apardal um excelente exemplo de recuperação do património

 

Concluída a visita ao Núcleo Museológico da Memória, que já contabilizou mais de mil visitas desde que foi inaugurado, o circuito continua.
Seguimos em direção ao Lugar de Vila Verde para uma visita aos Moinhos d’Apardal. Trata-se de um conjunto de 4 edifícios que a Junta, em colaboração com a Câmara de Caminha e o Conselho Diretivo dos Baldios da Freguesia, recuperou e inaugurou a17 de agosto de 2015.
À chegada somos surpreendidos pelo som da água a correr que faz trabalhar girar a mó em granito.
Tudo está impecavelmente recuperado como se o tempo não tivesse passado por ali. Paulo Alvarenga explica-nos que se tratam de moinhos que pertenciam a vários herdeiros. “No interior dos moinhos, para além da mó existia também uma lareira para a pessoas se aquecerem quando lhes tocava vir moer durante noite. Como eram moinhos de herdeiros, funcionavam de dia e de noite para que assim todos conseguissem moer os cereais”. Segundo conta o Tio Zé Bento, que tem 99 anos, já o avô dele moía naqueles moinhos. Isso leva-nos a concluir que os primeiros datam de 1700/1800. Para além de moer os cereais, o avô do Tio Zé Bento também ali moía a pimenta que era depois utilizada no tempero dos chouriços. “Secavam os pimentos, eram moídos aqui no moinho e depois faziam o pimentão picante e doce para temperar”.
Estes moinhos, denominados moinhos de regato, funcionam através de um mecanismo de duas pedras, sendo que uma, a chamada pedra base, encaixa numa segunda através de um pau de madeira que entra num orifício feito na própria pedra. “O mecanismo rola em cima de dois seixos”, explica Paulo Alvarenga.

Neste momento a Junta de Freguesia já se encontra a recuperar um outro moinho que fica no enfiamento dos existentes e que também se encontrava degradado.
“São recuperações muito minuciosas porque nós queremos respeitar ao máximo as características originais. Antes de recuperarmos estes moinhos eles estavam praticamente destruídos, alguns até tinham árvores a crescer no interior. Recuperamos tudo, pedra por pedra, utilizamos madeiras de carvalho, mas valeu a pena”, sublinha.
À semelhança do Núcleo Museológico também os Moinhos d’Apardal têm sido alvo de muitas visitas e neste momento já se torna complicado para a Junta ter pessoal disponível para fazer a visita guiada.
Este conjunto de moinhos é um dos ex-libris da cultura popular e etnográfica da freguesia, onde a tradição da moagem está ainda bem presente na população.

Forno Comunitário um espaço polivalente

Deixamos os moinhos para visitarmos de seguida ao forno comunitário de Riba de Âncora, alguns metros mais à frente.
Trata-se de um espaço que foi criado para servir a comunidade e onde se poder cozer o pão em forno de lenha.
Mas o espaço é muito mais do que um simples forno. Com capacidade para receber até 200 pessoas, dispõe de uma excelente cozinha e é um local de excelência para a realização de convívios.

Paulo Alvarenga conta que ali já se realizaram muito almoços e jantares de confraternização de associações da freguesia e até de outros locais.
“Neste momento já estamos a preparar um jantar para angariar fundos para recuperarmos a capela de São Miguel aqui da nossa freguesia. Contamos reunir aqui 200 pessoas. É tudo oferecido por pessoas da freguesia e não só. Esperamos com esta iniciativa reunir dinheiro que nos permita avançar com a obra.
O senhor Bispo vem cá em março e nessa altura, contamos ter a capela impecável. Mas isto só é possível porque estamos todos juntos”, sublinha o autarca.

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